Nós e eu - Última parte.

A natureza consumiu a última criação, tornando-os parte Lucy e parte o pai, porém Miguel tinha um plano para deter isso, há bilhões de anos, desde que Lucy nasceu:

- O plano da salvação. - Explicava Miguel para Gabi e Rafael. - Vamos salvar a última criação de nosso pai das garras ardilosas de Lucífer.

Os irmãos cabisbaixo ouviam, todos eles:

- Eu terei que corrigir e destruir a natureza perversa que Lucy derramou naquele lugar... O primeiro homem e sua companheira foram expulsos da fazenda perfeita, derradeiros de uma vida miserável, estão condenados...

- Condenados? - Perguntou Rafael à Miguel.

- Eles morrerão Rafael, a morte é uma criação de nossa irmã, ela derramou isso por todo o universo, e contaminou a criação perfeita de nosso pai, preciso me certificar de ajuda-los.

...

Um bom tempo se passou, Lucy acompanhou-os de perto, amava todos eles, eles proliferaram como uma árvore forte, sustentando toda a fazenda com seus sucessores, eram complexos e destrutivos, porém amavam com intensidade, dedicavam sua vida a uma causa, um sonho.

Tempos depois os caídos vieram procurar por Lucy, a tinham como uma suposta líder libertadora, Azazel e Yekun lideravam centenas de milhares deles, que causavam desespero e dor por onde passavam:

- É preciso harmonia aqui, um balanço será feito. - Ordenou Lucy. - A criação de uma casa para nós, não devemos interferir nas decisões deles.

Lucy pediu para Yekun cuidar desse local, a ordem era para manter a balança que ela e seu pai haviam criado, eles não devem ser totalmente destrutivos, e a presença de seus irmãos caídos causavam isso neles.

Permitiu que Azazel ensinasse a eles, assim como outros, interferirem de forma positiva na criação, e assim foi... Até o primeiro apaixonado.

O amor deles com a criação não era permitido, Lucy sentiu que os frutos disso seriam problemáticos porém era difícil o controle dos irmãos que sentiam a natureza dentro dos humanos e se atraíam por ela.

E foi quando Lucy estava mais calma e absorvida ao local que a notícia chegou:

- Miguel está vindo... Ele tem algum plano pra acabar com a criação. - Yekun era confiável, e a informação devia ser levada a sério.

Lucy se preparou para a vinda do irmão, mas ao invés disso, veio água.

A quantidade de água era absurda, caía dos céus lenta e corriqueiramente, Lucy sentia interferência de Miguel, nunca havia chovido dessa forma:

- Precisamos sair daqui, vamos nos abrigar no local onde vocês criaram. - Ordenou Lucy.

- Mas é apenas chuva. - Azazel era ingênuo e não conhecia Miguel tão bem.

- Ele vai destruir tudo, leve seus filhos com vocês.

Lucy estava certa, a criação havia sido inteiramente destruída, tempos depois ao subir para a superfície viu que Miguel havia lavado tudo com seu ódio, os animais e as plantas, e todos os homens e mulheres, todos mortos.

Porém o pai é paciente e sábio, e conseguiu fazer com que um homem sentisse o mesmo que Lucy e salvasse a si, esposa e filhos, e um casal de cada animal, perpetuando assim a linhagem dele:

- Miguel ficou furioso conosco nos misturando a criação como ele nunca ousaria fazer... - Refletia Yekun. - Vou me retirar Lucy, amo demais a natureza para ver isso, estou velho.

Lucy consentiu:

- Liderarei os caídos lá do sepulcro, me certificarei que isso não aconteça novamente.

Eles se espalharam estrategicamente, formando alianças e erguendo civilizações imensas, os caídos foram chamados de muitos nomes, faraós e deuses, líderes de toda uma geração.

Lucy esperou pacientemente, sabia que Miguel atacaria novamente, porém o irmão mais velho, tão paciente quanto ela, havia pensado em algo grandioso:

- Irei me sacrificar por eles... Darei meu sangue e minha vida para salva-los, e Lucy não poderá interferir. - Miguel estava convicto que necessitava ajuda-los, pois as sombras eram densas demais para serem simplesmente abraçadas.

Todos confirmaram tristes a determinação de Miguel:

- Deixe-me fazer por você irmão. - Gabi sentia o pesar no coração de Miguel, queria aliviar aquele sentimento.

- Terei eu que fazer, como homem.

...

Como um suspiro o derradeiro dia, a notícia havia se espalhado como nenhuma outra, todos eles estavam cientes, caídos ou não, Miguel desceria a terra como homem.

E assim foi, a família escolhida e um nome havia sido dado, o nome que correria por todos os ouvidos, em todos os picos da terra:

- Ele vai destruir a natureza, as sombras não existirão. - Sentavam-se a mesa derradeira do sepulcro, os líderes caídos, Lucy na ponta da mesa com a mão na testa e os olhos prateados fechados. - Não podemos permitir. - Concluiu Azazel.

- Ele não vai aguentar. - Disse Lucy seca. - Irei ter certeza que esse sacrifício não seja fácil, ele ira sentir o que ter dor, medo, desilusão, ele irá sentir as sombras que nós convivemos todos os dias, ele vai sentir a escuridão... Seu coração jamais será o mesmo depois disso.

Todos fizeram silêncio, sabiam como era conviver com as sombras e que Miguel não a conhecia, porém a escuridão era algo que somente Lucy havia visto na face do abismo.

Pouco tempo se passou e o sacrifício de Miguel se aproximava, e ambos sabiam que deviam um encontro antes do acontecido:

- Vão todos para o sepulcro, irei cuidar disso sozinha. - Disse Lucy.

Os caídos obedeceram e se retiraram, e Lucy marchou ao deserto ao encontro de seu irmão mais velho, porém viu nada mais do que um homem, fraco, ranzinzo:

- Voltou a ser João? - Perguntou Lucy a Miguel.

Miguel sorriu:

- Não me chamo mais João há tanto tempo.

- Porém está com a mesma aparência de quando nos conhecemos, tão frágil. - Lucy estava seca.

- Não preciso de poder Lucy, vou salva-los da ganancia, vivi como eles e sei o tormento que passam.

- Não vai conseguir, desista desse sonho, sem poder nada aguentará, logo estará com fome e sede. - Disse Lucy, que conhecia a natureza.

Porém Miguel estava consciente disso tudo, e aguentou a conversa inteira sem comer e beber nada, os segundos para Lucy passavam como dias para Miguel, e este enfraquecido não fraquejou:

- Pois bem.

Lucy virou as costas para a forma esquelética e humana, mas sentia enquanto caminhava para longe, uma aura de um deus, que poderia se equiparar ao próprio pai, nas costas da moça, caído dentro daquela forma decrépita, estava um titã de luz, isso arrepiou Lucy:

- Vou assistir você sofrendo e sendo assassinado. - Disse com amargura.

Ele destruiria tudo que ela havia interferido.

"Não preciso narrar o inarrável, essa história a humanidade inteira conhece, e eu a vi de perto, encarando meu irmão nos piores momentos, enquanto ele absorvia todas as sombras e conhecia a escuridão em seu coração, até clamar, se sentindo sozinho como nunca, abandonado na face do abismo, Miguel viu a tormenta e por um momento pensou em fraquejar, porém o sacrifício havia foi feito".

Lucy contou aos irmãos e desapareceu.

No inicio era como os sumiços corriqueiros, porém muito tempo se passou desde a última vez que Lucy havia sido vista.

Ela se tornou um mártir, sua luta lembrada, um novo líder assumiu o sepulcro, cruel e vingativo, torturava bilhões de almas atrás de Lucy, Yekun se retirou para sempre e Azazel liderava os caídos mais fortes em uma busca implacável pela líder legítima, contra a destruição excessiva que o novo líder havia promovido.

Boatos de olhos prateados surgiam, boatos que como névoa se dissipavam.

...

Depois de uma noite intensa de amor, Lucy deixou um cristal vermelho na cabeceira da cama de Emilia Warren, a mulher que Lucy amava.

- Meu coração é seu. - Dizia despida e beijando levemente os lábios dela.

- Onde você vai? - A mãe estava com a criança no colo, que olhava para as duas mães sem entender o que estava acontecendo.

- Preciso resolver problemas de família... - Disse Lucy se vestindo e levantando-se.

Ela se despediu da esposa, beijou a testa do filho:

- Meu segundo filho, fico feliz que tenha sido com você. - Disse Lucy.

- Não demos um nome a ele ainda... - Disse Emilia preocupada.

- Quero que me prometa uma coisa antes. - Disse Lucy.

- O que você quiser... - Emilia estava com os olhos cheios de lágrima, mas sabia que ela deveria partir.

- Não diz a ele que ele tinha outra mãe e sim um pai. - Lucy estava séria.

Emilia consentiu:

- Mas por que? Não importa o que o vilarejo acha de nós Lucy, ele nunca será atingido. - Disse.

- Não é isso, não ligo para o preconceito... - Lucy olhou nos olhos do menino recém nascido. - Quero despista-lo, ele vai querer me procurar e isso pode ser perigoso.

Emilia concordou:

- Seus irmãos mais novos? - Perguntou.

- Sim... Eles estão atrás de mim... Ele vai ser uma isca. - Disse Lucy.

- Por isso você maquiou os olhos dele? - Perguntou Emilia. - Para que não fossem prateados como o seu?

Lucy confirmou, caminhou até a porta da cabana e disse:

- O nome dele será Edmond... - Disse sorrindo. - É um belo nome.

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 05/07/2016
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