Percepção e devaneios.

Quando ele era pequeno falava pouco, mas via muito.

As pessoas afagavam sua cabeça e o achavam engraçadinho.

A medida que foi crescendo perdeu-se de si mesmo e se encontrou na fotografia.

Tirava fotos de tudo: grilos, esquilos, pássaros.

As pessoas bagunçavam seu cabelo e diziam

- Que talento!

Agora ele não só olhava, observava também.

Enxergava o que muitos não viam.

Captava instantes.

A lente nunca sentia vergonha,

era ousada.

A câmera não precisava se aproximar,

abrangia.

Os esquilo, os grilos e os pássaros, ficaram para trás.

E ele se afastou ainda mais.

Era ele, a câmera e um mundo todo a sua frente.

Não havia mais barreiras

A arte nunca pediu licença.

Ele tornou-se o instrumento, em suas mãos.

Os dois eram apenas um agora, um o prolongamento do outro.

Invadia espaços, flagrava momentos, roubava sorrisos.

Para ele já não havia mais afagos nos cabelos, mas desconfianças nos olhares.

As pessoas o evitavam e ele as eternizava.

Pobre homem,

Perdido em si mesmo.

Esqueceu de viver a vida enquanto dissecava detalhes alheios.

Tânia Mara Paula
Enviado por Tânia Mara Paula em 03/11/2016
Reeditado em 26/12/2017
Código do texto: T5812442
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