Percepção e devaneios.
Quando ele era pequeno falava pouco, mas via muito.
As pessoas afagavam sua cabeça e o achavam engraçadinho.
A medida que foi crescendo perdeu-se de si mesmo e se encontrou na fotografia.
Tirava fotos de tudo: grilos, esquilos, pássaros.
As pessoas bagunçavam seu cabelo e diziam
- Que talento!
Agora ele não só olhava, observava também.
Enxergava o que muitos não viam.
Captava instantes.
A lente nunca sentia vergonha,
era ousada.
A câmera não precisava se aproximar,
abrangia.
Os esquilo, os grilos e os pássaros, ficaram para trás.
E ele se afastou ainda mais.
Era ele, a câmera e um mundo todo a sua frente.
Não havia mais barreiras
A arte nunca pediu licença.
Ele tornou-se o instrumento, em suas mãos.
Os dois eram apenas um agora, um o prolongamento do outro.
Invadia espaços, flagrava momentos, roubava sorrisos.
Para ele já não havia mais afagos nos cabelos, mas desconfianças nos olhares.
As pessoas o evitavam e ele as eternizava.
Pobre homem,
Perdido em si mesmo.
Esqueceu de viver a vida enquanto dissecava detalhes alheios.