VIDAS ENTRELAÇADAS (Parte 3)

   Imagens desconexas invadiam as retinas de Leo, ele não tinha a menor ideia de onde se encontrava, sentia ainda uma tontura e lembrou-se somente que estava dentro de uma caminhonete. Sua visão foi aos poucos se restaurando e ele pôde vislumbrar que estava diante de uma locomotiva. Sua mente teve um lapso de lembrança de uma casa que seria demolida por conta da passagem de uma ferrovia. Se deu conta de que estava sentado no banco de uma estação de trem. Levantou-se e dirigiu-se até a bilheteria para ter informações, era uma manhã como outra qualquer, antes de fazer qualquer pergunta reconheceu o rapaz da bilheteria, já o tinha visto muitas vezes, sua mente ainda congestionada por informações confusas começou a trabalhar melhor, ia se lembrando de coisas que eram rotina sua, aquele lugar, por exemplo, ficava próximo de onde lhe veio a lembrança de onde morava. Ali perto passava um rio bastante caudaloso onde existia uma ponte. "Uma ponte?" - pensou ele. Lembrou-se imediatamente da ponte de onde pensou em se jogar. Teve o ímpeto de ir até lá, ficava perto, andaria pouco.

   Chegou até a ponte, viu um monte de pessoas, olhavam para baixo, carros da Polícia estavam ali estacionados, tinha um do Corpo de Bombeiros, uma corda comprida foi projetada do alto da ponte até um barco que na água estava, na parte onde a correnteza não oferecia perigo. Leo aproximou-se, queria ver melhor o que estava acontecendo, chegou mais perto, mas o pessoal da segurança não permitiu que ninguém se aproximasse mais, uma faixa da via estava bloqueada para veículos e pedestres e ele ficou curioso como as outras pessoas que ali se encontravam.

   Finalmente um corpo é resgatado e sobe através da corda que foi jogada pelos bombeiros, ele percebeu que se tratava de um homem. No meio da multidão Leo viu uma mulher que chorava compulsivamente, ela tinha o rosto coberto por um véu, mas suas feições eram familiares, ele tinha a impressão de que a tinha visto em algum lugar. Tentou aproximar-se dela para ver melhor, ela parecia evitá-lo, mas ele insistiu, chegou mais perto e se surpreendeu, reconheceu aquela mulher que ali estava aos prantos, era Ana, aquela que amava perdidamente, só não conseguia lembrar de onde, sabia só que a amava e que faria tudo por ela. Caiu em prantos também, ficou sem forças, não conseguiu dar nem mais um passo. Suas pernas tremiam como vara verde, de repente sai de trás dela uma criança, era Augusto, ele lembrou-se que era seu filho, sua mente confusa estava lhe torturando, não sabia mais o que fazer.

Impossibilitado de andar Leo olhou com mais atenção para as pessoas que ali estavam, queria ver se reconhecia mais alguém, se podia conversar, saber alguma coisa, mas todos eram estranhos, somente Ana ele reconheceu, mas não podia chegar até ela, algo o impedia, suas forças não permitiam, não conseguia entender mais esse sofrimento.

Os policiais trouxeram o corpo do homem que havia sido resgatado do rio, iam colocá-lo numa caminhonete própria para o transporte de defuntos. O carro estava bem perto dele, o cadáver foi colocado num caixão, ali junto estava a mulher aos prantos, era Ana, a sua Ana, antes do corpo ser levado ela afastou o pano que cobria o rosto do morto e Leo pôde ver com toda clareza, aquele corpo era o dele.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 05/10/2019
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