TERROR NOTURNO

Estava eu meio atordoado numa cinzenta tarde de sábado...

Quando ainda tinha que ir para um aniversário de uns sobrinhos. Já era quase noite chuvosa.

Uma certa melancolia pairava no ar. Eu estava meio apreensivo, angustiado não sabia o motivo. Pois bem, dei uma olhada no apto onde moro, chequei como de costume antes de sair. Parecia tudo normal. Exceto por um detalhe estranho, que de soslaio pude perceber. Uma pessoa, um vulto todo de marrom sentado no meu sofá com um gesto alinhado. Olhando para um quadro de Jesus entalhado numa madeira que havia sido de meu pai. Antes de haver falecido.

Pois muito que bem. Olhei de novo e dei uma risadinha, falando comigo mesmo, ser fruto de minha imaginação. Chequei novamente. E por fim fechei a porta e fui para o aniversário. Tudo correu dentro das expectativas.

Já de volta, quase adentrando a madrugada, Adentrei o apto. com uma dor de cabeça nunca jamais sentida em tempo algum. Tomei analgésicos e nada, ânsia de vomito...

Enfim “apaguei” na minha cama. A sensação era sinistra, não conseguia raciocinar, afundei no meu colchão de mola. Não conseguia levantar a cabeça, um calafrio horrendo começou a percorrer cada centímetro de meu corpo. Parecia que eu estava afundando dentro de minha própria cama, escutava vozes dissonantes, parecia que quanto mais eu gemia de dor parecendo que tinham colocado implantes no meu cérebro. Parece que eles sabiam de todos os enxertos de minha carne... Era desesperador. Cada gotícula derramada de meu suor uma canção dantesca pra estes seres indistintos. Ouvir minha respiração era como um pequeno barquinho a vela diante, de um mar revolto. E ver vultos desconexos em cima de mim, parecia que eu estava num círculo do inferno passeando de carona pelas sombras do vale da morte. E quanto mais eu me desesperava, aquelas entidades pareciam gozar freneticamente com meu sofrimento. Não conseguia me levantar por nada e o suor escorrendo e o vento do ventilador pareciam chibatas na minha pele. Eu estava numa espécie de lama gulosa num ancoradouro, melhor dizendo, num sumidouro de perplexidade e sem entender porque faziam isso, qual objetivo?. Minha réstia de bom senso era orar em filetes pra Deus. E estes seres por cima de mim, sons pesados difíceis de traduzir. Pesados e pesarosos rindo em “êxtase contínuo”. Pareciam saber que estavam no comando e se compraziam disso. Um horror sem precedentes e o abismo parecia estar a pequenos centímetros de minhas pálpebras cegas.

Enfim... depois desta noite traiçoeira. olhei para o relógio de um cômodo a minha frente com sinais de LED luminosos, quase cinco horas de domingo. Custosamente me levantei, sem vontade de fazer nada e ao tocar na minha cabeça ela estava toda dolorida, como que trincada, principalmente nos seios do lado direito e nos lóbulos atrás da cabeça totalmente sensíveis ao toque de meus dedos. Foram dois dias sem vontade de comer e nem beber água. E nem o celular sabia onde estava e com certeza com a bateria descarregada. Parecia que eu tinha entrado num vácuo e algo me trouxe de volta. Tipo dizendo: "Não penseis que és forte é só um aviso". Só forças pra colocar ração pra minha pet e voltar pra cama novamente tentando compreender esta odisseia macabra. Comecei a rezar internamente, fazendo uma varredura no apto. O tempo foi permeando sua naturalidade e agora estou bem. Deveria ter me preparado para entender as escolhas. O vulto será que queria me dizer alguma coisa espiritual? Um aviso? Ou um preparo?

Quanto ao quadro ele continua lá, só mudei o sofá... Convidei o Senhor para lá sentar na minha ausência.

Uma coisa é certa. Em tudo há sinais pequenas aberturas e fendas minúcias que deixamos passar desatentas.

Milhares de vezes tentamos querer o que já temos. Neste eterno paradoxo que é viver

Sem compreender pra que se vive e muito pior para que se morre.

E entre estes dois mundos há tantas coisas que não compreendemos....Orai e Vigiai...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 15/12/2021
Reeditado em 18/12/2021
Código do texto: T7408195
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