Orquestra dos Fósseis

1. Roubo

Roubaram o museu. Detalhe: museu de história natural. Um punhado de pseudo-arqueólogos chegaram no fim da tarde, com um caminhão, umas ferramentas estranhas e outros artifícios.

O museu fechou as 17:00, e eles continuaram lá, perambulando corredor por corredor, como se procurassem algo. Passou meia hora, e o guarda estava andando. Passou mais meia hora, e o guarda já estava no celular.

Foram para as salas de pesquisa, pegaram fósseis e fósseis de tudo o que é ser vivo. Vertebrados, plantas, insetos em âmbar. Foram indo e voltando para o caminhão com os itens.

Quando questionados eles diziam que era apenas para estudar em um laboratório mais equipado. Ingênuo e ignorante o guarda achou normal e aceitável.

Levaram e levaram até por volta das 20:15. Como eram muitos os “ladrões arqueólogos” foi relativamente rápido levar centenas de fósseis.

2. Confecção

Os motivos eram bizarros. Levaram o caminhão de fósseis para o fabricante de instrumentos Antônio Pluto da Silva, famosíssimo na cidade por importar marfim ilegalmente e comprar madeira de árvores com risco de extinção.

Após encher um quarto inteiro com os fósseis que os ladrões foram levando ele começou o plano: fazer flautas, violinos, liras, harpas e asalatos.

Pluto então começou a confecção. Definitivamente a qualidade seria inferior à de um instrumento feito de madeira ou marfim, mas era a encomenda dos malucos.

Após um ano de trabalho intenso, sem dormir ou comer decentemente Antônio Pluto concluiu o pedido, mesmo sob pressão de terminar em 3 meses por parte dos ladrões.

3. Orquestra

Os instrumentos foram distribuídos para uma banda. Estranharam e cogitaram ser impossível tocar esses instrumentos estranhos. Porém os “arqueólogos” insistiram, e após muito ensaio os músicos pegaram o jeito.

Foram se apresentar no dia. Tocaram Danse Macabre e outras músicas macabras, com um timbre surreal. O público estranhou e alguns até foram embora durante o concerto.

Ninguém desconfiava do que eram feitos os instrumentos, mas todos concordavam que eram uma merda.

Concluíram o concerto, já com dois terços da quantidade que estava no início, sendo que grande parte dos que restaram eram os ladrões.

4. Prisão

Após um certo tempo a polícia relacionou a primeira parte dos crimes. Localizaram e prenderam todos os ladrões pseudo-arqueólogos.

Queriam saber o que fizeram com os fósseis, mas os ladrões foram inflexíveis e mesmo sob torturas não falaram… e muito menos deduraram o Pluto.

5. Explicação

— Por que foi preso? – perguntou um dos muitos colegas de cela.

— Porque eu queria uma orquestra de almas, mas o mais próximo que consegui foi de fósseis.

Otacílio de Almeida
Enviado por Otacílio de Almeida em 15/09/2023
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