CONVIVENDO COM UM FANTASMA

 

 

Amanheceu. Suzy desceu as escadas vagarosamente, a cabeça ainda doía. Antes de chegar ao térreo parou e olhou um pouco surpresa para aquela enorme sala. Ali estava ele, de pé, como a esperá-la. Lembrou-se da noite anterior com Antenor, seu companheiro de muitos anos. A ressaca a deixava irritada, tomara bastante vinho ao lado dele, só que ele não consumiu uma taça sequer, apenas a observava e o papo era somente sobre eles, sobre esse amor que jurara ser eterno. Continuou descendo a escadaria daquela mansão e parou perto dele que a fitava com ar de gratidão. D. Eleonora, sua mãe, a interrompeu e perguntou se estava bem. Suzy olhou-a ainda sonolenta e balançou a cabeça afirmativamente sem pronunciar uma única palavra. Olhou ao redor e não viu mais Antenor, porém não se preocupou, seguiu até uma janela que dava para o jardim enolhou-o com carinho, ali estavam belas flores que seu companheiro gostava de cuidar e ele estava lá estava a regá-las e sorrindo para ela, que retribuiu com um sorriso meio sem graça.

 

- Bom dia, querido! Saiu da sala tão rapidamente que nem percebi - disse ela sem ver que a mãe estava do seu lado perguntando:

 

- Com quem fala, Suzy?

 

A moça virou-se e apontou para o jardim, mas d. Eleonora não viu ninguém.

 

- Hoje temos uma consulta com Dr. Fernando, seu psiquiátrica, está lembrada? - perguntou a mãe para ela, que apenas fez um gesto de dúvida e afastou-se, subindo as escadas e indo para seu quarto.

 

A tarde d. Eleonora foi para o quarto da filha, estava na hora se seguirem para a consulta. Ela já estava pronta e sorrindente.

 

- O Antenor vai com a gente hoje, pedi para ele. - disse Suzy -  Gosto quando ele me acompanha.

 

A consulta transcorreu normalmente e pouco antes das cinco da tarde já estavam em casa. Desceram do carro e entraram. Suzy demorou-se um pouco enquanto Antenor descia da parte da frente do veículo. A mãe olhou com desdém para a filha e entrou um tanto incomodada. Sabia que ela imaginava ver o homem com quem se casaria, mas por infelicidade do destino veio a falecer vítima de acidente com seu carro numa estrada nas montanhas. Desde então ela entrou em parafuso e perturbou-se mentalmente mudando completamente o seu modo de pensar. Adorava em algumas noites tomar vinho ao seu lado, mesmo ele não sendo adepto da bebida quando era vivo. Depois disso ela continuou, dizia vê- lo e compartilhar esses momentos com ela.

 

Alguns anos se passaram, Suzy aparentava uma certa tranqüilidade e ela mesma decidiu não mais se consultar com o psiquiatra, no que sua mãe concordou. O "clima" entre ela e Antenor tornou-se "normal". Toda manhã ela descia a escadaria e ia cumprimentá-lo na sala, a mãe a tudo assistia e fazia de conta que aceitava aquela convivência com seu fantasma que somente ela via.

 

 

 

 

 

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 16/10/2023
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