A Resposta do Professor Desocupado
               ao Deputado Valente


                                     
Compadre Lemos

O Amigo Leitor permita
Primeiro, pedir a Deus
Que ilumine os versos meus,
No assunto que vou tratar.
O caso foi muito sério
E eu não faço mistério,
Do lado que vou ficar.

O Senhor, Onipotente,
De Toda Sabedoria
Vai me ajudar, neste dia,
A cumprir minha missão.
Que eu possa, fielmente,
Retratar à minha gente
A história em questão.

Ao Leitor, neste momento,
Eu só peço a caridade:
Me leia, pois, com bondade
E um pouco de paciência.
Pois a história que eu conto
Presenciei, ponto a ponto,
Pra contar com transparência.

Pois bem: foi numa cidade
Chamada de Cafundó,
Situada, vejam só:
No País do Carnaval,
Que esse fato se deu.
A testemunha fui eu,
Se conto, não leve a mal.

Conforme vi no jornal,
Numa sessão do Plenário,
De modo bem temerário,
Um tal "Senhor Deputado"
Sem ter o menor pudor,
Declarou que "o Professor
Era um desocupado".

O fato virou manchete,
Fez furor em toda Imprensa.
Uns diziam: "é ofensa!"
Já outros, acharam certo.
O Deputado, valente,
Sorria, todo contente,
Se achando muito esperto.

Sendo, pois, um deputado,
E metido a sabichão,
Notou que a situação
Muito lhe favorecia.
"Eu estou em evidência,
Esta nova experiência
Vou repetir todo dia!"

No dia seguinte estava
De novo, lá na bancada.
A palavra lhe foi dada
Ele, então, assim falou:
"Caros correligionários,
Eu sou contra salafrários!
Indignado eu estou!

E grande salva de palmas
Ecoou pelo salão.
Deputados de plantão
Aplaudiram o "herói".
Quem não é achincalhado
Não se sente acovardado
Porque não sabe onde dói!

E continua a falar
O "Ilustre Deputado":
"Ontem eu fui convidado
Nesta mesa, pra depor.
Pediram-me opinião
Sobre importante questão
Que eu falasse, por favor.

Pois a questão era a Greve
Que fazem os Professores.
Eu ponderei, sem temores,
E mandei o meu recado:
Demonstrando o meu valor,
Afirmei que o Professor
Era um desocupado!

E disse mais, meus amigos,
Pois não teme quem não deve.
Eu disse que essa greve
Não tem o menor sentido.
O professor se contente!
Já ganha o suficiente
Por que faz tanto alarido?

Um bando de exploradores,
Isto sim, é o que eles são!
Exploram nossa nação,
Achando que são os reis!
Já chega de confusão.
Chamemos sua atenção
Mostrando a força das Leis!

O Plenário veio abaixo,
Com o aplauso retumbante.
O Deputado, importante,
Achava-se o maioral.
Os colegas aplaudiam,
Elogios proferiam,
Ao “discurso genial”.

Mas, quando se fez silêncio
Ali, naquele ambiente
E o Deputado, contente,
Da tribuna ia sair...
Lá do fundo do salão,
Pra espanto da multidão,
Uma voz se fez ouvir:

- Com licença, Deputado,
Espere só mais um pouco.
Talvez eu seja até louco,
No que pretendo fazer.
Mas peço, com educação,
Dê-se sua permissão,
Pois quero lhe responder!

O Deputado assustou-se
Com a firmeza da voz.
E perguntou, já feroz,
A que devo essa ousadia?
Por acaso, eu lhe conheço?
Ofensa eu não esqueço...
Cuidado com a valentia!

E o Professor, muito calmo,
Disse, então, ao Deputado:
Eu sou o "desocupado",
Conforme fala o senhor.
Mas, aqui não me atrapalho,
Pois vivo do meu trabalho
Honesto, de Professor.

O senhor falou primeiro,
Seus colegas aplaudiram,
Sem pensar no que ouviram...
Se era justo, ou não.
Vou então lhe responder
E este povo vai ver
Quem tem, de fato, razão.

Respondendo ao seu discurso,
Eu começo lhe dizendo:
O povo inteiro está vendo
Quem só não vê é o senhor
Que, na luta pela vida,
Quem sofre mais, nessa lida,
É o pobre do Professor.

Teria o senhor coragem
De aqui, neste Plenário,
Declarar o seu salário,
Sem esconder um vintém?
Quem é que tem mais dinheiro?
O senhor é fazendeiro...
E o Professor nada tem!

E quantas horas por dia,
Quantos dias por semana
O senhor, que se ufana,
Trabalha mesmo, em verdade?...
Se eu trabalhasse tanto,
Deputado, eu lhe garanto,
Vivia de caridade!

Todo dia eu me levanto
Às cinco horas, Doutor.
Eu sou um trabalhador
E não tenho carro não!
Pra pobre, não tem atalho
E, para ir pro trabalho,
Eu ando de condução!

E o senhor, Seu Deputado,
Já pegou um lotação?
Já ficou de prontidão
Num ponto, de madrugada?
Já foi, acaso, assaltado,
E, logo após , espancado,
Só porque não tinha nada?...

Às sete horas começo
O primeiro expediente.
Ao meio dia é que a gente
Engole e já sai com pressa..
E tome mais lotação!
Outra escola, outra missão!
E a luta recomeça!

E, depois que a noite chega,
Sem ao menos ter jantado,
Outra Escola, Deputado,
Inda tenho pela frente.
Se eu fosse desocupado,
Estaria acomodado,
Num Plenário, sorridente!

E nessa hora, Doutor,
Por favor, me diga, onde?
Onde é que o senhor se esconde,
Pra ninguém lhe encontrar?...
O telefone, ocupado
E um segurança, que armado,
Não deixa ninguém entrar!

Será que está na piscina
Da sua rica mansão?
Ou será que em reunião
Fechada, neste Plenário?
Mas, pelo que eu percebi,
O senhor só vem aqui...
Pra receber o salário!

E o meu salário, Doutor,
Quando chega o fim do mês,
Já foi todo de uma vez
Pois pobre paga o que deve.
Com o salário defasado
O Professor, explorado,
Declarou que está em greve!

"Desocupado", Doutor?...
Tenha um pouco de respeito!
O senhor, que foi eleito
Pelo voto deste povo!
O povo votou errado
Mas se for achincalhado...
Será que vota de novo?...

Ainda tem outra coisa
Que eu queria lhe dizer.
Se o senhor quer entender,
Por favor, preste atenção:
Nada há, mais importante
Para o povo, neste instante,
Do que a Educação.

Pois se o senhor é letrado,
Se escreve, se fala bem,
O senhor deve isto a quem,
Senão a seu professor?
A juventude carece
Do saber, que enaltece
A todo trabalhador!

Imagine, pois, o mundo
Sem escolas, sem cultura!
Se faria a sepultura
De todo e qualquer progresso!
E o senhor, seu Deputado,
Não estaria assentado
Na cadeira de um Congresso!

E, como eu já lhe conheço,
Nem é preciso falar...
Não sabendo trabalhar
Em serviço mais pesado,
Como ia sobreviver,
Sem ganhar nem pra comer,
O meu Nobre Deputado?

Falar contra o Professor,
Tentando manchar-lhe o nome,
Vai é condenar à fome
Toda nossa juventude!
Sem preparo, sem escola,
Ela vai "correr sacola",
Sem achar quem lhe ajude!

Chamar de "desocupado"
Um trabalhador honesto?...
Eu não aceito... e protesto!
Só um louco age assim.
Por tamanha negligência,
Há de vir a conseqüência
E vai ser muito ruim!...

O povo está informado
E sabe quem tem razão,
O Rádio, a Televisão,
E os Jornais já relataram.
Seu discurso é deprimente
E o povo já está ciente
De todos, que lhe apoiaram!

Espere só, Seu Doutor,
A Justiça nunca falha.
Difamar a quem trabalha
É falar sem ter noção!
Mas, se disso o senhor gosta,
Espere pela resposta
Do povo, na eleição!

Nem vaga de professor
O senhor terá, então.
Não temos "corrupção"
Como matéria escolar.
Me diga então, meu amigo,
Pra se livrar do perigo,
Como é que vai se virar?

Pois se eu fosse o senhor,
Eu agia diferente:
Respeitava toda a gente
E mentiras não dizia.
Pois o futuro é incerto,
Quando o longe fica perto...
Não se come valentia!

E agora eu lhe pergunto,
Pois a resposta eu não sei:
De acordo com a Lei,
Vigente, em nosso Estado,
Quem hoje se vê eleito
Será que vai ter direito
De ser sempre Deputado?...

Terminando, eu peço a Deus
Que tenha dó do senhor,
Que ofendeu o Professor
E não está preocupado.
Professor sempre eu serei
Com orgulho, pois eu sei
Que meu trabalho é honrado.

Era o que eu tinha a dizer.
Não vou generalizar.
A todos, neste lugar
Eu peço, então, um favor:
Vasculhem a consciência,
Não aplaudam a indecência
Que afirma esse senhor!

Os senhores, Deputados,
Não precisam ser ladrões!
Podem ter, nos corações,
Valor e dignidade!
É uma escolha pessoal:
Ou se é do Bem ou do Mal,
Da Mentira ou da Verdade!

Mas lembrem-se: foi Jesus
Quem deixou o ensinamento:
“O que plantas, no momento,
No futuro hás de colher”!
O povo não é inocente
E o voto consciente
Só aos bons vai reeleger!

Foi-se o tempo, meus senhores
Do cabresto, que amarrava,
Do chicote, que estalava,
Nas costas do povo inteiro!
Ajam com seriedade,
Resgatando a dignidade
Do Político Brasileiro!

E não se esqueçam jamais
Que o povo está unido!
E que, estando agradecido,
O apoio sempre vem.
Não traiam o povo, senhores,
Pois traindo esses valores
Amanhã... serão ninguém!

Nessa hora, o Professor
Sentou-se, aliviado.
Ele tinha extravasado
Um sentimento oprimido.
Olharam por todo lado.
Onde está o Deputado?
Não sei... já tinha sumido!

Neste país é assim:
É tudo envolto em mistério.
Na hora de falar sério
Não aparece ninguém.
Só uma coisa me anima
Deus vê tudo, lá de cima
E dá razão a quem tem.

Professores, sempre unidos,
Lutando por seus direitos
São homens, não são perfeitos
Mas buscam, honestamente
Melhorar a condição
De toda uma nação
Com trabalho diligente!

Coragem pra responder,
O que nos for perguntado,
Moral bastante elevado,
Pureza, no expressar!
Amor e discernimento,
Diante do sofrimento,
Respeito a todo talento
Esperança no marchar,

Levemos a todo evento
Em que pudermos falar!
Mostremos ao mundo inteiro
O Professor Brasileiro
Sementes, a semear!

Problemas, todos nós temos,
Roteiros de uma viagem!
Onde houver, porém, coragem,
Fatalmente venceremos!
Estes versos escrevemos
Somente pra declarar:
Solidários, irmanados,
Onde existir explorados,
Rimando, vamos lutar!

Fim.

Dedicatória:

Dedico este trabalho a:

Aparecida Maria Santos - Minha Comadre Cida Santos, de Bom Jesus da Lapa - BA - e Regina Bizarro - Minha Comadre Regina, do Rio de Janeiro.

Ambas, além de inspiradas poetisas, são dedicadas professoras.

Ambas honram, com trabalho, idealismo e talento, esse verdadeiro sacerdócio.

Que Deus continue lhes dando forças!

Agradecimentos:

Agradeço imensamente à Minha Comadre Tessa Bastos (Uberaba - MG ), e ao Meu  Compadre João Rubens, ( Terezina – PI ), pela paciência da revisão.

Fraterno abraço,