Ida e Volta
ou Desventuras de um Casamento

Compadre Lemos

Me casei tem vinte anos
E foi só felicidade
Minha esposa, na verdade,
Não me trouxe desenganos.
Não tive perdas nen danos
Nem de noite, nem de dia.
Minha sogra eu não via
Pois a dita nunca estava
Quando eu ia, ela vortava
Quando eu vortava, ela ia.


Eu morei no Catolé
E ela, no Cariri.
Me mudei pro Ipotengi
E Ela foi pro Itambé.
Com amor e muita fé
Meu casamento vivia!
Tinha paz e harmonia
E véia não trapaiava.
Quando eu ia, ela vortava
Quando eu vortava, ela ia.


Até que um dia, seu moço,
Meu sogro foi quem morreu.
Minha sogra entristeceu
E foi ao fundo do poço.
E foi um angu de caroço,
Do jeito que eu não queria:
Lá em casa, moradia,
A véia agora assentava!
Quando eu chegava, ela tava!
E era todo santo dia!


Dois meses, essa tortura
Eu ainda suportei.
Depois eu não agüentei
E disse, na cara dura:
- Sua mãe não me atura
Chega dessa arrelia!...
Eu vou-me embora, Maria!!!
E o casamento acabava!
Eu saíndo... ela chorava.
E a véia ainda surria!


E eu fui-me embora, doutor,
Abandonei minha casa!
As duas - o que me arrasa! -,
Se avexaro, não sinhor.
Fiquei triste, sem amor,
Foi-se embora a alegria!
A partir daquele dia,
Felicidade fartava.
Quando eu ia, ela vortava
Quando eu vortava, ela ia.


Mas o tempo, meu amigo
Trabaiava em meu favô.
A Maria se danô
A sonhar sempre comigo.
E no sonho, eu não lhe digo
O que é que nóis fazia!
Eu só sei que a Maria
Confirmou que me amava.
Quando eu ia, ela vortava
Quando eu vortava, ela ia.


E danô-se pa brigar
Com a mãe dela, sim sinhor!
Foi a farta de amor
O que fez ela mudar.
E, doutor, pra completar,
A velha sempre dizia:
Não seja besta, Maria
O traste não te amava!
Quando eu ia, ela “vortava”
Quando eu “vortava”, ela ia.


Um dia, não teve jeito:
A casa caiu de vez.
Uma grande briga se fez
As duas, no peito-a-peito!
Depois do furdunço feito
Remediar, já não podia.
Um laço que se rompia
Não tinha mais quem atava!
Quando eu ia, ela vortava,
Quando eu vortava, ela ia.


A velha reconheceu
Que era ela, a culpada.
Sumiu-se... destrambelhada,
Nunca mais apareceu.
E foi nesse dia, que eu,
Quaje doido de alegria,
Para o amor de Maria
Feliz, em casa chegava.
A véia ia... eu vortava,
Se ela vortasse... eu sumia!!!

Eitha!...

                           
Compadre Lemos
Enviado por Compadre Lemos em 22/06/2008
Reeditado em 02/08/2010
Código do texto: T1046122
Classificação de conteúdo: seguro