NÃO PÕE AS MÃOS (OU) CONVERSA DE SALÃO
(OU) NÃO É QUE ELA TEM RAZÃO?...



Viver no meu Piauí
é uma coisa complicada.
Imaginem que eu cresci
na roça, bem separada
da tal civilização.
Bem longe de Teresina,
embrenhada no sertão,
eu vivi, quando menina.

Mas que vida diferente,
era aquela! Eu vejo aqui:
-Sou uma mãe presente.
Mil diferenças eu vi,
numa cidade tão grande...
Mas lá não havia disso.
Não sou uma mãe que mande,
mas tenho meu compromisso.

Então, quando minha filha
começou a namorar,
eu já logo abri a cartilha,
com o moço fui falar:
-Meu rapaz, tu “toma jeito”;
não quero nunca saber
que puseste a mão... Suspeito...
sabe o que quero dizer...

E à minha filha, eu digo:
-Filha, nunca deixa, não,
isso é o maior perigo...
É um menino, com razão!
Nem mesmo é um homem feito,
mas filha, isso é sagrado.
O que tu tens é perfeito
e não deve ser tocado.

Descendo das nuvens altas,
onde eu estava a voar,
envolvida em outras pautas,
absorta em meu pensar
-enquanto uma aqui lixava-
e eu ficava a embaralhar,
não sabendo o que trocava:
mão ou pé para pintar,

perguntei: -Como é que é?
-O que está acontecendo?
E daí errei o pé,
mas logo troquei correndo...
-Eu estava explicando
que sou muito cuidadosa,
até fiquei esperando,
mas a mãe não dava prosa!

Mas eu, aqui com meus filhos,
converso muito e não deixo
jamais que saiam dos trilhos,
por falta minha ou desleixo.
Minha mãe nunca me disse
o que fazer e eu então,
que me casei virgem, vixe!
Imagine a confusão...

E depois, bem que eu falei:
-Mãe, não posso acreditar,
pois eu nunca imaginei,
não podias me contar,
não podias ter falado
como é que as coisas são!
Pois foi um susto danado
(...) Vocês imaginarão

o que ela comentou!
Eu errei o pé e a mão,
uma das unhas borrou,
o esmalte caiu no chão;
eu não parava de rir,
mas algo eu não entendia.
Assim eu quis descobrir
a importância que teria,

por que que ela assim achava,
que não podia o sujeito
-coisa que eu não atinava-
apenas, unicamente,
botar a mão com proveito,
nos tais volumes da frente...
E assim, sem querer, eu digo:
-Mas não há outro perigo?

Pode haver outro problema,
desde um beijo bem lascado
ou, sei lá (eis meu dilema!
Explicar, bem explicado,
o que ali bem me ocorria),
mas ela logo ajuntou:
-É que o pai sempre dizia,
o pai sempre me afirmou,

que esse é um lugar sagrado...
-Sagrado? -Não é normal?
-Não! -Por quê? -Porque é notado
que em criança é tudo igual,
sendo menina ou menino,
mas quando a menina cresce,
então que lhe venha o siso,
e guardá-los é preciso...

Hoje o pai mudou um pouco,
eu creio que a mãe também.
Na capital, mundo louco,
ele vê de tudo e tem
conversa mais liberal.
Pra mãe, porém sempre digo:
-Por que, mãinha afinal,
tu não falavas comigo?

Então tenho esse preceito
e falo com minha filha...
E pra não ficar suspeito,
ficar tudo maravilha,
também digo pros meninos,
que procurem respeitar
os volumes femininos;
que nem pensem em tocar!

Sou uma mãe cuidadosa,
dos meus filhos sou amiga.
Então, num dedo de prosa,
é importante que eu diga
o que precisam saber...
Mesmo assim, eu perguntei:
-Não há outras coisas mais
que eles devam conhecer?

-Essas outras eles sabem,
ou aprendem com alguém.
Eu não quero que acabem
como os que a mãe não tem.
Eu sou mãe e, se é meu filho,
eu digo a todo o momento:
-Venço qualquer empecilho
para evitar tal tormento.

Eu não saio pra balada,
não arrumo namorado;
não fico em casa parada.
Com eles pra todo lado
eu vou, faço companhia.
Num casamento desfeito,
mãe e pai sou todo dia.
Liberdade não aceito.

Assim filha, que eu não pense,
que eu não venha nem sonhar,
que nenhum piauiense
ou rapaz de outro lugar,
um dia lhe ponha as mãos...
Oh! Não deixe filha minha
Meus cuidados não são vãos
você nem mesmo adivinha!



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