O sonho dum minino

O sonho dum minino

Airam Ribeiro

E o minino sonhô intão

De um dia tê um caminhão

Pra transportá no sertão

Gado pros fazendêro,

Um dia ele astuciô

E daquele sõin qui sonhô

Ele intão se realizô

Pois quiria cê camionêro.

O motô do caminhão

É a força de sua mão,

E axado ali no xão

Uma lata vazia de óio,

É a bulé, qui maravia!

Lá vem ele cum aligria

na brincadêra de todo dia

Ródano sem tê petróio

Ah! e a sua carroceria?

Foi de u’a caixa vazia

Qui seu Zé da mercearia

Cabô de cumê marmelada,

Derna de cedo tava o bixin

Cum aquele seus dois óin

Incostado lá nun cantin

Pra pegá a cáxa jogada.

De uma cabaça quebrada

A idéia foi formada

Quatro rodera furada

Pra num pau cê infiado,

Foi um caminhão parido

Por um minino sabido

Nun tem nada perdido

Prum sõin cê realizado.

Pra guiá o seu possante

Ele amarrô dois barbante

Para servi de um volante

Para curvá o caminhão,

Na sua simplicidade

Ele sente felicidade

O carro pra ele é de verdade

É um boiadêro do sertão.

Bi bi, bi bi, lá vem a criança

Com a buzina da esperança

Ele nun teve a vida mansa

Mas vem dirigino um caminhão,

Um caminhão boiadeiro

qui leva gado pros fazendêro

Comprado sem tê dinheiro

Nas ruas do meu sertão.

Raaaamu, raaaamu, sai da frente!

Lá vem um motô quente

Roncano na guéla dun inocente

Transportano u’a boiada,

São reses da bananeira

Que virô u’a brincadêra

Naquelas mãos facêra

Que pur Deus foi abençoada.

E era feito com amô, nun era comprado em xopi centé, era parido mermo, minino pobre tinha qui sabê parí brinquêdo naquelis tempo no meu sertão.

Airam Ribeiro
Enviado por Airam Ribeiro em 10/03/2009
Reeditado em 10/03/2009
Código do texto: T1478837