Só quem conhece o sertão... Mote> Autor: Damião Metamorfose.

Mote do poeta potiguar Edimilson Garcia, glosas de: Damião Metamorfose.

Zefa lavou os terem

Pois pra secar num girau

Na latada do quintal

Foi descansar o sedem

Um deforete vai bem

Pra depois recomeçar

Mas ao deforetear

Sentiu uma comichão

Só quem conhece o sertão

Entende esse linguajar

Guardar toda a maravalha

Em dia muito chuvoso

Ouvir conto de trancoso

Pitando unzinho de palha

Ser mais cabido e canalha

Na hora de encochar

Mas se acaso embuchar

Chama-la de corrimão

Só quem conhece o sertão

Entende esse linguajar.

Vou dar um salto na venda

Depois passo na bodega

Se der também vou ao brega

Ver se faço uma emenda

Essas negas da fazenda

Tão querendo me esnobar

Mando todas se rear

Mas não vou ficar na mão

Só quem conhece o sertão

Entende esse linguajar.

Um caboclo esbanguelado

Com cara de sofrimento

Amontado num jumento

Desmilinguido e cansado

Leva a vida atarantado

Com dez fios pra criar

Mas encara o seu penar

Como qualquer diversão

Só quem conhece o sertão

Entende esse linguajar.

A porca ficou roncando

Para tomar bacurim

Mais eu só tinha um poiquim

Que não tava aguentando

A bicha andava viçando

Que nem quero me alembrar

No fim eu sem precisar

Sai atrás de um barrão

Só quem conhece o sertão

Entende esse linguajar

Um retrato na parede

Um papagaio e um louro

Jibão e chapéu de couro

Em cada torno uma rede

Tiúba pra matar sede

Baião de dois, mungunzá.

Maquina de costurar

Que só vai no empurrão

Só quem conhece o sertão

Entende esse linguajar.

Montar-se numa cangalha

Adornada de cambitos

Açoitar jegue com gritos

Mais agudos do que gralha

Pra ir buscar maravalha

Para a mulher cozinhar

Lá no oitão empilhar

Pra suprir na precisão

Só quem conhece o sertão

Entende esse linguajar.

Eita bichinho paidégua,

Como vai tu arrombado,

Posso não to avexado,

Faça a conta e passe a régua,

Já andei pra mais de légua,

Não vou mais me incomodar,

Quiba ruim vá se lascar,

Prefiro carrim de mão,

Só quem conhece o sertão,

Entende esse linguajar.

Eu estou aperreado

Cum tanta duença rim

Lá im casa o meu filhim

Tá cum defluxo danado

Com ele encatarrado

Num posso nem trabaiá

Tenho mede dele tá

Cum essa febre do barrão

Só que conhece o sertão

Entende esse linguajar

No beco do vuco-vuco

Bebé que ficar de coca

Vai levar uma taboca

Dessas que lasca o cumbuco

É igual jogo de truco

Ganha o que mais gritar

Se o cabra se abestalhar

Sai de lá só de calção

Só quem conhece o sertão

Entende esse linguajar.

Maior que o pau da bandeira

É meio mundo essa festa

Mais hoje está cá “mulesta”

Tá “chei” de nega fuleira

Como eu sou da bagaceira

Pico a mula e vou rondar

Deu de frente vou entrar

De sola nesse avião

Só quem conhece o sertão

Entende esse linguajar.

Uma cuia de farinha

Duas quartas de café

Uma anágua pra muié

Dois litros dessa caninha

Quina-quina pra meizinha

Pra quando um se amorrinhar

Fumo para nós pitar

Toicim pro o arubacão

Só quem conhece o sertão

Entende esse linguajar.

Uma lapada de cana,

Café com bolo na feira.

Prosa boa e verdadeira,

Tertúlia em fim de semana.

Um feixe de gitirana,

Pras cabras se alimentar.

Latada pra esfriar,

A casa do calorão.

Só quem conhece o sertão,

Entende esse linguajar.

Damião Metamorfose
Enviado por Damião Metamorfose em 29/08/2009
Código do texto: T1781875
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