O VELHO CARRO DE BOI

O carro de boi cantando

o meu pai com seu peão,

- um na frente outro tocando,

cada um com seu ferrão.

O carro cheio de milho,

rasgando parte do trilho,

deixando marca no chão.

Em cima daquela carga,

um velho jacá vazio,

- sinal da batalha amarga,

em tantas noites de frio,

em tantos dias de sol,

em cada doce arrebol,

contornando aquele rio.

Chegando em casa bem tarde,

- o milho já nos porões,

mas o canto ainda arde

na cabeça dos peões.

Meu pai, “carreiro” da vida,

sabe a dor de uma subida

fazendo gemer canções.

No outro dia a vistoria

- ainda na madrugada

preparando a cantoria

para mais uma empreitada.

Checando em baixo, a emborgueira,

junto a ela a cantadeira

que vai dar o tom na estrada.

A junta de bois da guia,

- já presos ao cabeçalho,

mostrando que nasce o dia

pra arrancar do chão cascalho.

Ferrão de carrapateiro,

bem em riste o seu ponteiro

cutuca para o trabalho.

De novo meu pai na frente

desbravando a lama suja.

A boiada na corrente,

- sob a mira de Azambuja,

do trançado de taquara

cutucava com a vara

no “depenar da coruja”.

Nossa vida era uma escola

feita de sonho e canção,

em nosso peito ainda rola

a cantiga da emoção...

O velho carro de boi

- eu não sei pra onde foi,

questiona meu coração!

Dáguima Verônica de Oliveira
Enviado por Dáguima Verônica de Oliveira em 01/09/2009
Reeditado em 02/09/2009
Código do texto: T1786587