O MENINO CAPETINHA
“ O Menino Capetinha”
fez-se mote em minha escola
Já chegava saltitando
como se pisasse em mola
todo mundo se arredava
não ficava onde ele estava,
exceto para dar cola.
Ai de alguém que não ousasse
acatar sua ameaça,
o menino já dizia:
- “ Você é a minha caça,
vou te torturar primeiro,
depois como por inteiro,
dessa vez você não passa!”
O Menino Capetinha
nem chegava ao seu intento
o pavor era tão grande
que sem nenhum movimento
todo mundo obedecia
e com medo agradecia
desculpando com lamento.
Sempre chegando atrasado
meia hora ele roubava
ajustando a sua mesa
na sala inteira ele andava
fazendo o maior barulho
chutando qualquer entulho...
Todo mundo se calava.
A professora, coitada
sempre ali passando mal
não havia solução
o moleque marginal
carregado de vingança
um palavrão sempre lança
acertando na moral.
A diretora escondida,
O Conselho Tutelar,
do telefone chamava:
-“Vem aqui nos ajudar,
o Menino Capetinha
(nem um nome ele tinha)
conosco vai acabar!”
Foram tantas expulsões
e o menino reprovado
tantos anos repetidos
seu furor sempre dobrado
meu olhar nele focava,
o menino eu já amava
por mim ele era aprovado.
Esperei fora da escola
resolvi lhe dar valor,
na sua casa chorou
vomitando seu horror.
A família numerosa
me abraçou bem carinhosa
sabia do meu amor.
E com ele ali fiquei
- era seu aniversário...
Já era noite bem alta,
não me importei com horário
partilhei com ele a luta
senti na carne a labuta
de quem não tem um salário.
Em sua casa de lona
revestida de jornal
a notícia mastigada
da injustiça Federal...
partilhando um senso crítico
desnudavam o político
que plantava todo mal.
Sabiam da hipocrisia,
- armação dos poderosos
por isso se defendiam
passando por perigosos.
Não vestiam dessa malha
cometendo a mesma falha
paparicando orgulhosos.
Lá naquela caverninha
é do céu que vem a luz
o alimento é caridade
o vestir somente a cruz...
Nesse mundo o orgulho some
o menino lá tem nome:
Não é capeta é Jesus.