Cupim na Viola

Creusa Meira e Damião

Meus mestres considerados

Ensinamentos passados

Que guardo no coração

Com cordel, não sem razão

A minha vida tempero

Sou um cordelista mero

Que não foge da bitola

Mas sou cupim na viola

Dos poetas nota zero

Poeta de faculdade

Sempre deixa a desejar

O seu culto linguajar

Não me traz felicidade

O poeta de verdade,

Feito no mato, é sincero

É esse que eu considero

Pois a vida foi sua escola

Eu sou cupim na viola

Dos poetas nota zero

Eu sou o verso perverso

Do versador mandingueiro

Sou cantador presepeiro

Que falo e não desconverso

Eu ando meio disperso

Mas quando chego acelero

Minha ideia plorifero

Faço o meu e passo a bola

Eu sou cupim na viola,

Dos poetas nota zero.

Eu sou a cadeia eterna

Pros ladrões dessa nação,

Para qualquer valentão

Eu sou rasteira na perna,

Sou criança que inferna

E velho não considero,

Motes eu não adultero

E pra quem faz, não dou bola

Eu sou cupim na viola

Dos poetas nota zero

Sou bolero de Altemar

Nas “noches” enamoradas

Mas sou estrofes formadas

Num cordeloso rimar

Sou o sertão, sou o mar

Sou a pressa mas espero

E as coisas que mais pondero

Não saem da minha cachola

Eu sou cupim na viola

Dos poetas notas zero

Eu sou a vaia do povo

Para o cantador sem graça

Poeta que se ultrapassa

Morre de medo do novo

Sendo assim, terror promovo

E a idéia plorifero;

Artista ruim eu só quero

Pra suspender pela gola

Eu sou cupim na viola

Dos poetas nota zero

Mote de Damião Metamorfose

Tarcísio Mota
Enviado por Tarcísio Mota em 10/09/2009
Reeditado em 26/01/2010
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