PRIMEIRA VIAGEM

Eu conto hoje o meu segredo:

Junto ao toco da porteira

escrevi o meu enredo,

sob a sombra da paineira,

- era curva de caminho,

sobre a grama fiz meu ninho,

ali tive a vez primeira.

Um fungado em nossa orelha,

os beijos sem endereço,

gemendo, o berro da ovelha,

( sem ter nexo, reconheço, )

traça a medida da dor,

da vergonha, do pudor

que sentimos no começo.

Como curva de caminho

numa primeira viagem

não tem tempo de carinho,

nem se percebe paisagem...

Matéria prima de pedra,

qualquer coisa a gente medra,

qualquer espaço é barragem.

Qualquer coisa é contratempo,

o vento escreve os temores,

a brisa acelera o tempo,

entre beijos e clamores,

suspirando a vez primeira,

desejando a vida inteira

viver somente de amores.

Fica a mancha da saudade

de uma etapa assim queimada

na faminta puberdade

de um fazer de um quase nada.

Se o tempo pra nós voltasse

e de novo a gente amasse

eu dobrava a madrugada.

Como se fosse criança,

feita em sonhos, a saudade,

costura um fio de esperança

- lá da roça pra cidade,

junta mundos em segundos,

num cruzamento, fecundos,

nasce de novo a vontade.

A primeira viagem dói,

deixa marca em nossa vida,

muita coisa ela destrói,

faz buraco, faz ferida

puxando nosso pensar,

fazendo a gente voltar

para uma etapa perdida.

Dáguima Verônica de Oliveira
Enviado por Dáguima Verônica de Oliveira em 19/10/2009
Reeditado em 02/01/2010
Código do texto: T1874662