O ET de São João da Baliza (Baseado em histórias reais)

Meus caríssimos leitores

Venho uma história contar

De uma cidade de Roraima

Que ouvi muito se falar

Em conversas que tive

Com o povo que vem de lá

Dizem que nesse lugar

Vida é um fim-de-semana

E todos têm seu trabalho

E a alegria se emana

Onde menino não mente

E velho não se engana

É uma cidade pacata

Perdida nesse Brasil

Longe da cidade grande

E o céu tem cor de anil

Sem fumaça, nem ladrão

E sem tiro de fuzil

A única agitação

São nos dias de festança

Seja ela do padroeiro

De político ou de dança

São dias inesquecíveis

E que não perdem lembrança

Dizem que o povo chegou

Na década de sessenta

Entretanto, muitas coisas

São dos tempos de setenta

Mas a emancipação

Só veio nos anos oitenta

Mas o que interessa mesmo

É de onde o pessoal veio

Muitos vieram do Sul

Do Nordeste e do meio

Com riqueza na cabeça

Sem botar o pé no freio

Muitos são do Maranhão

Alguns são do Ceará

E tem gaúcho também

Daquelas bandas de lá

Porém, não tem muita gente

Do Amazonas e Pará

A terra foi dividida

Em algumas vicinais

Cada chefe recebeu

Lotes de áreas iguais

E fundaram a cidade

Sem ter muitos ideais

No começo foi difícil

Comércio nem existia

Não tinha água, nem luz

Muito menos padaria

Vários só tinham Jesus

Outros nem Ave Maria

Mas desse jeito se deu

Na terra que o povo pisa

Com promessa e esperança

Que demora e martiriza

E assim foi que nasceu

São João, o da Baliza

Em tal cidade amazônica

Vive o jovem Manoel

Membro da sociedade

Cumpre bem o seu papel

É filho daquela terra

Gerado por Samuel

Seu Samuel é casado

Com sua Dona Lurdinha

Têm em casa quatro crias

Todos filhos da terrinha

Destes, três são masculinos

E uma linda princesinha

Manoel é o mais velho

Entre todos os irmãos

É orgulho da família

E não falta a tradição

Seus irmãos são Carolina

Pedro Luís e João

Manoel durante o dia

Trabalha com o seu pai

É uma vida corriqueira

Que passa no vem e vai

Fim de tarde caminhando

E à noite em busca sai

A noite vem chegando

Manoel sai pra caçar

Paca, tatu ou veado

Antes da lua levantar

Leva espingarda na mão

Uma lanterna pra enxergar

Na noite fria e escura

No meio do matagal

Ouve-se canto da coruja

Ao longo da vicinal

Estrela brilha no céu

O boi muge no curral

Estava a noite tranqüila

Sublime a luz do luar

Trazia um brilho platinado

Pra floresta iluminar

Então o jovem engatilha

A presa cai ao gritar...

De repente soa no ar

Forte zumbido rasgante

Onde o silêncio se esconde

E Manoel neste instante

Olha pro céu e avista

Grandiosa luz brilhante

Manoel não titubeia

E observa desconfiado

A forte luz que arrodeia

Agora no seu cercado

Passa por cima da casa

E desce pelo telhado

O jovem então se aproxima

E num susto se depara

Com uma criatura careca

De olho vermelho na cara

Manoel pega carreira

Mas logo sua perna para

E toda cidade escuta

Aquele forte zumbido

Todos saem de suas casas

Sem nem saber do ocorrido

Manoel sai disparado

E não se dá por vencido

E os cachorros latiam

Cavalo desembestava

Seu Francisco se tremia

Dona Josefa gritava

A noite virava dia

No céu a nave brilhava

No momento todos viram

Num rápido vôo rasante

A bola explodir em cores

E sumir naquele instante

A noite virando dia

Lusco-fusco alucinante!

A nave circunda o céu

E rasga pela matinha

Cruzando de norte a sul

Retorna pela Serrinha

Reduz a velocidade

E plana sobre a pracinha

O povo se apavora

Dispara no mói de coentro

Manoel a essa altura

Já rumou para o centro

A nave pousa na praça

Uma forte luz sai de dentro.

Os homens puxam as armas

Mas elas queimam nas mãos

Manoel chega à praça

No meio da multidão

O ET salta da nave

E o encontra no chão

Manoel neste momento

Dessa luz se iluminou

As pessoas se assustaram

Muita gente desmaiou

O povo grita na rua

O chupa-cabra chegou!

Passado susto na praça

ET ganhou todo povo

Veio lá de bem longe

E construiu mundo novo

E São João da Baliza

Chamou de Cabeça-de-Ovo

Criou associações

A leitura incentivou

Educou cidadãos

Os pobres orientou

Também brincou carnaval

Mas na quarta jejuou

E quando ninguém esperava

Cabeça de ovo quis festa

– Traz o povo da cidade

Que vou brilhar minha testa

Vamos lá em Nilton Barth

Que hoje é Rock na Floresta!!!

Cabeça-de-Ovo ganhou

Do povo muito respeito

Pois no dia da eleição

Venceu todo preconceito

Num domingo de Jesus

Foi eleito prefeito

Manoel continuou

Nas bandas do Anauá

E virou "adevogado"

Mais tarde saiu de lá

Ajudou muitas pessoas

Depois foi pra Capitá.

E assim chego ao final

De um caso bem contado

Que conheci nas entranhas

Lá por onde tive andado

Do ET que virou prefeito

O povo quis e tá feito

Fica tudo aqui narrado.

Boa Vista do Rio Branco-RR, 23 de Setembro de 2009.

Rodrigo Leonardo Costa de Oliveira
Enviado por Rodrigo Leonardo Costa de Oliveira em 28/10/2009
Reeditado em 11/03/2016
Código do texto: T1891827
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