Rancho de Sapé

Coisa mais linda, tão bela,
minha casa lá na aldeia,
nas noites de lua cheia,

fica ainda mais singela,
florezinhas na cancela...
De pau-a-pique e sapé,
ao lado do igarapé
que murmura uma cantiga
que tanto prazer instiga,
de tão gostosa que é!

Tem rede armada no canto
esperando pelo amigo,
que vem partilhar comigo,
esse meu doce recanto...
Tanta alegria decanto
desses perenes momentos,
juntinho dos meus rebentos,
do meu cachorro, meu gato,
que da memória resgato
os mais puros sentimentos.

E na moringa água pura,
fogão de barro com brasa,
no cantinho lá da casa,
onde se tem paz, fartura,
milho verde na fervura,
o beiju já na panela,
pacu fresco na gamela
matrinxã já no moquém...
Sou feliz como ninguém
nessa casinha singela.

O chão de barro batido,
o cheirinho de urucum,
minha rede de tucum,
e algodão entretecido,
não há nada parecido
com as casas da cidade,
é uma casa de verdade...
Mas que beleza de rancho,
é tão pequeno e tão ancho,
apesar dessa humildade...
 
Cuiabá, 08 de Novembro de 2009.

Realejo, pp.55-56
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 08/11/2009
Reeditado em 25/07/2020
Código do texto: T1911366
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