TEMPO
O tempo segreda e cura,
limpa o sangue da ferida,
as defesas ele mura
com asas da própria vida.
Tem em seu sopro a lisura
que não prorroga a partida.
No silêncio da passagem
é passageiro invisível,
sem endereço ou imagem
faz o oculto ser possível.
Transformador sem montagem,
vence a batalha impossível.
Com o fio da indiferença,
sem ter molde, ele costura,
no saber tem sua crença,
não tem dor que ele não cura,
nem tem guerra que não vença,
TEMPO é o nome da figura.
No palco de sua rede,
badalando a sua marcha,
apaga a fome ou a sede
com um pincel de borracha,
troca a imagem da parede
sem ficar sinal ou racha.
O tempo parece um pai
e o filho só dá valor
quando o seu tempo se esvai
pelo túnel de um tambor...
Também quando a gente cai
e ele cura nossa dor.