EU E O (EN)CANTO DO PATATIVA

Patativa e eu

Temos algo em comum:

Ele era cego de um olho

E eu só enxergo com um;

Somos filhos do Nordeste,

Terra dos “caba da peste”

Que não têm medo algum.

Inda meninos nós perdemos

A figura do progenitor;

Tarde ingressamos na escola;

Cedo conhecemos o labor...

Somos também semelhantes

Quando nos fazemos amantes

Das letras e dos versos de amor.

E em cada verso escrito,

Deixamos ali registrado

Tudo aquilo que sentimos

Sem medo de termos errado

Na dosagem do sentimento

Que provoca o sofrimento

Dos que sonham acordado.

Mas essas tais semelhanças

Entre mim e ele existentes

Vão ficando bem limitadas

E cada vez mais ausentes,

Pois as suas belas poesias

Ele as escreve com maestria,

As minhas faço timidamente...

Enquanto meus versos engatinham,

Os dele já ganharam o mundo;

Enquanto aos meus me dedico,

Nos dele eu mais me aprofundo

Em busca da rara sobriedade

Existente nos vates de verdade

Que fazem versos profundos.

Busco, porém, inspiração

Na poesia matuta e criativa

Solta pelo mundo encantado

Dos poetas de alma efusiva...

Assim, quem sabe um dia

Encontrarei a doce magia

Implícita nos cordéis de Patativa?

Voltada ao povo marginalizado

E oprimido do sertão nordestino,

A poesia do Mestre Patativa

Atravessou as fronteiras do Ensino

Mostrando a todos a simplicidade

Dos versos escritos com habilidade

Por quem soube fazer seu destino.

Já os versos da minha poesia

Em muito tenho que aprimorar,

Também é longo o destino

Que eu pretendo desbravar,

Pois no meu fadário sou infante;

Na arte de versejar, um estudante

Inda longe de se formar...

Considero-me um aprendiz

De poeta, mas tenho fé

Que os meus versos sejam um dia,

Mesmo remando contra a maré,

Mundo afora reconhecidos

Muito embora eu não tenha sido

Um Patativa de Assaré...

Patativa pouco estudou,

Porém não teve dificuldade

Em assimilar que própria vida

É a melhor faculdade

Para se aprender de tudo,

Inclusive que, sem estudo,

É possível ter felicidade.

Embora eu tenha estudado

E muitas coisas aprendido,

Não me é possível alcançar

O mesmo nível do falecido

Patativa de Assaré

Que há muitos anos é

Dentre tantos o mais lido.

Como bem podemos ver

Nestas brancas folhas de papel,

As semelhanças que existem

Entre mim e o grande Menestrel

Não passam de mera pretensão

De um poeta cuja intenção

Foi sé escrever este cordel.

Joésio Menezes
Enviado por Joésio Menezes em 02/03/2010
Código do texto: T2115347
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