5 - O RECADO EM SANGUE - O Paladino e a Donzela

Aos mui nobres trovadores

Que aqui hão de trovar.

Deixo um recado em sangue:

Ela, aqui, há de passar.

“Em minha torre, eu vigio.

Os pensamentos me assolam.

Silêncio. Choro vertido.

É dia. Sinos me acordam.

Nos campos é primavera.

Lindas flores de açafrão.

Meu coração ‘inda espera.

Nele, cruel solidão.

Longa, me foi a noite.

Mais longa a solidão.

Sozinho em minha torre, eu choro.

Lembrança ao céu do sertão.

Por amar me fiz escravo.

Padeci num pelourinho.

Outras coisas, suportei;

Em troca de um vil carinho.

Mas hoje do amor eu faço

Um sonho, um idealismo.

Sozinho me posto e velo:

Da Donzela, o Paladino.

Tanta dor e solidão,

É capaz de enlouquecer

Ao mais forte paladino.

Sozinho eu quero morrer.

Que farei, Nobre Donzela?

A ferida ainda me sangra.

Nessa noite, em minha cela.

Encontrei uma miçanga.

E nela tantas histórias:

Amor. Solidão. Carinho.

Um soluço embargado

Em meu peito, e ali sozinho.

O amor, Nobre Donzela

É um atributo divino.

Esse é o amor que eu anelo;

Esse, o amor do Paladino.”

Esse, o recado que eu deixo.

Por favor, que mo entreguem.

Eu me coloco em viagem.

Vou até sirinhaém.

Moses Adam

Ferraz de Vasconcelos, 1610/2008