CARMENCITA, A DEUSA CAMPEIRA

Já se fazem alguns anos

Eu e uns amigos gaúchos

Nos mandamos pra fronteira

Pra umas comprinhas sem luxo

Num desses paises contíguos

Onde o povo é nosso amigo

E pra entrar não tem barreira

Eu vou falar bem baixinho

Pra minha mulher não escutar

Pois eu ainda não a conhecia

Mas ela não vai me perdoar

Mesmo que a história seja antiga

Se ela souber me castiga

Deus me livre da Maria

Pois quando ela está brava

Me bota pra dormir no sofá

Perco seus carinhos ternos

Sem seus braços a me abraçar

Sinto a falta do seu zelo

E tenho muitos pesadelos

Que o diabo vem me buscar.

Não é que eu seja medroso

Já fui das forças armadas

Nos tempos de mocidade

Mas castigo da mulher amada

Me tira sempre do prumo

E fico louco e sem rumo

Vagando pela cidade.

Mas como eu ia contando

Estávamos no país vizinho

E logo após o anoitecer

Me senti muito sozinho

Sai a procurar uma parceira

Num fandango de fronteira

No campo do bem querer.

E a sorte me ajudou

E me acudiram os santos

E logo vi uma morena

Que mais parecia um anjo

E com os desejos a aflorar

Pus em cima o meu olhar

Naquela deusa terrena.

E a bela correspondeu

Pois me achou bonitão

E logo fiquei em transe

Cheio de garbo e tesão

Dancei tango a noite inteira

E com aquela musa campeira

Comecei logo um romance

E como fui tão feliz

Nos braços daquela mulher

Que era pura sedução

De deixar defunto em pé

Seus beijos eram ardentes

Seu corpo era tão quente

Que nem lava de um vulcão

Mas a moça já tinha um noivo

Que era de meter medo

Sujeito que só quer ganhar

Quando soube do nosso enredo

Procurou-me por toda a cidade

Com seus amigos de maldade

Querendo me aniquilar

E quando nos encontramos

Perto de uma praça central

O homem era o cão a bufar

Com ganas de um animal

Trazia na mão uma adaga

Que se pega me estraga

Querendo o meu corpo furar

Eu não sou de fazer guerra

Sou de amor e muita paz

Mas se provocado eu peleio

E então puxei minha espada

Que é feita de puro aço

E gritei naquele espaço

-Vem que eu te corto ao meio!

O homem sentiu de cara

Que na frente tinha um macho

Pra lutar pronto e disposto

Que não sossega o facho

Que não tem medo da morte,

Não liga muito pra sorte

E não teme qualquer desgosto

E deu um pulo pra trás

Quando sentiu o fio da espada

Branindo faminta no ar

Mesmo cercado de amigos

Já não tinha a mesma valentia

E querendo mostrar simpatia

Se dispôs a dialogar.

Diálogo é o que não me falta

Pois sou temente a Deus

E sei respeitar os viventes

E o homem chorando me disse

Quem não me tinha rancor

Mas que eu roubara seu amor

Enquanto ele estava ausente.

Obs.: Fim do primeiro capítulo.Outra hora eu conto o resto dessa história verdadeira.

HAMILTON SANTOS
Enviado por HAMILTON SANTOS em 07/05/2010
Código do texto: T2243574