Lampião e o quilo de sal

Pra escrever meu cordel

Eu tenho tranqüilidade

Tudo aqui é mentirinha

Sem um pingo de verdade

Que essa história é um fruto

De uma criatividade.

Em cima de um boato

De uma história do sertão

Eu quero falar do sal

E também de lampião

Relatando uma maldade

De um homem sem coração.

Um bando de cangaceiros

Do grupo de Virgulino

Fizeram uma passagem

No interior nordestino

Tramando ir almoçar

Na casa de Severino.

Lampião entrou na casa

Veja o que aconteceu

Entrou em missão de paz

Maldade não ocorreu

Pediu almoço pra ele

E pra todo o bando seu.

O velho disse pra ele

Lampião pode entrar

Chame também o seu bando

Para entrar no meu lar

Que eu vou mandar minha velha

A comida preparar.

Mas Lampião já sabia

Que naquela habitação

O velhinho Severino

Já sofria da pressão

E que a velha não botava

Muito sal na refeição.

Lampião era malvado

Com a carabina no peito

Porém com seu Severino

Ele tinha mais respeito

Que o velho era cabra macho

E cidadão de conceito.

Lampião falou ao grupo

Aqui estamos em paz

Que esse dito casal

Me conhece até de mais

Que quando eu era garoto

Já conheciam meus pais.

Por isso eu quero dizer

Pra toda rapaziada

Eu não quero confusão

Nem pilhéria, nem piada,

Quem vacilar perde o coro

Na minha faca afiada.

O cangaceiro Chicote

Gostava de confusão

Lampião adormeceu

Esperando a refeição

E chicote escondeu as facas

Do valente Lampião.

Às duas horas da tarde

Severino foi chamar

O grupo de Lampião

Que estava a descansar

Para ir para cozinha

Para todos almoçar.

Chicote entrou na cozinha

Pensando numa piada

Porque já tinha escondido

A dita faca afiada,

Mas Lampião não brincava

Depois da palavra dada.

A velha serviu o rango

Cada um com uma lata

Lampião desconfiado

Pegou a colher de prata

E fez a sua artimanha

Que quase sempre era exata.

A colher de prata era

Coisa que um velho ensinou

Se estivesse envenenado

O feijão que ela botou

A colher ficava preta

Como quem oxidou.

Depois de avaliar

Deu a ordem aos cangaceiros

Podem comer sem ter risco

Meus queridos companheiros

Que eles não tramaram nada

Eles não são trambiqueiros.

Chicote provou e disse:

Bem no meio do local,

Esse feijão ta insosso

Num tem um pouco de sal?

Se eu comer desse feijão

Eu acho que passo mal.

Lampião olhou pra ele

Com a cara de malvado

Disse: Chicote você,

Entendeu o meu recado?

Então coma pianinho

Engula tudo calado.

E Chicote continuou

Fazendo o seu cambalacho

Que ele queria provar

Que era mesmo cabra macho

E disse: Engula você

O feijão de guela a baixo.

Lampião ouvindo isso

Procurou logo o punhal

Não encontrou o danado

Mas pra provar que era mal

Pediu para Severino

Trazer um quilo de sal.

Num é sal que você quer?

Disse assim Lampião,

Então você terá sal

Pra comer na refeição,

Coloque o quilo de sal

E coma junto com o feijão.

Apontou a carabina

Pra cabeça de Chicote

Dizendo eu quero ver

Esse doido dá pinote

E mandou botar água quente

Dentro de um grande pote.

E disse: Agora coma,

Que vou ficar para ver

Eu vou dar quinze minutos

Pra o feijão você comer

E depois que terminar

Tem água para beber.

Chicote comeu nervoso

Aquele quilo de sal

Depois de cinco minutos

Começou a passar mal

E morreu de pressão alta

No caminho pro hospital.

O bando todo nervoso

Pegaram o corpo dele,

Mas Lampião deu a ordem

Malvado como só ele

Jogue o corpo no monturo

Que os urubus comem ele.

Lampião falou pro bando

Matei aquele ralé

Eu dei a minha palavra

E nela eu coloco fé

Eu tinha dado o recado,

Quem avisa amigo é.

Maria tava ao seu lado

E falou aos cangaceiros,

Comigo era diferente

Meus atos são mais grosseiros

Se a ordem não for cumprida

Eu mato sem desesperos.

A minha lei é assim

Ela sempre foi tirana

Sabe o que eu faria?

Pra matar esse sacana

Botava pra ele chupar

Duzentos quilos de cana.

Chuparia tanta cana

Que cairiam os dentes

E os lábios ressecados

Iriam ficar dormentes

E a carne ia ser comida

Por formigas e serpentes.

A diabetes iria

Subir os padrões normais

E ele iria morrer

Açucarado demais

Pra chupar cana no inferno

Do lado de satanás.

Coitadinho de Chicote

Que morreu sem precisão,

Mas quero deixar bem claro

Isso é uma ficção

Isso só aconteceu

Na minha imaginação.

Porém tem gente que conta

Aquela história do sal,

Mas eu não posso afirmar

Que não tava no local

Nem vi o que aconteceu

E nem conheci o tal.

Obrigado meus amigos

E meus leitores fiéis

Que gostam de poesia

Feita pelos menestréis

E que apreciam minhas

Histórinhas de cordéis.

13/07/2010 Rafael Neto.

Rafael Neto (Poeta de Cristo Neto)
Enviado por Rafael Neto (Poeta de Cristo Neto) em 14/07/2010
Reeditado em 02/08/2010
Código do texto: T2376161
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