Nu, careca e sem dente.> Autor: Damião Metamorfose.

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01=I

Se a mente não me trair

Ou passar despercebida.

Eu vou tentar descrever,

Algumas fases da vida.

Desde a concepção,

O tempo de gestação,

A chegada e a partida.

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02=II

Nossa primeira guarida,

É o útero materno.

Onde o clima é sempre ameno,

Seja verão ou inverno.

Aparentemente estreito,

É o lugar mais perfeito,

Mais antigo e mais moderno.

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03=III

O ambiente é tão terno,

Que ninguém quer ir embora.

Mas depois de nove meses,

Todos têm que dar o fora.

E o inquilino em questão,

Em parto normal ou não,

Esperneia, grita e chora.

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04=IV

Um novo instinto aflora,

Mesmo ainda inconsciente.

É o instinto animal,

Na forma mais inocente.

Quando a sede ou fome aperta,

Já liga o sinal de alerta,

Da fase sobrevivente.

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05=V

Careca, nu e sem dente...

E sem enxergar direito.

Ele estranha o novo mundo,

Onde tudo é imperfeito.

Com fome e sem paciência,

Sua primeira exigência,

No mínimo é um peito.

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06=VI

Reclama o frio do leito,

Estranha se faz calor...

Passa o dia dormindo,

A noite chora de dor.

E os pais seus assistentes,

O acolhem pacientes,

Com dedicação e amor.

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07=VII

Independente da cor,

Crença ou credo social.

Sexo ou nacionalidade...

Comportam-se tudo igual.

Indefeso e dependente,

Na fase sobrevivente,

É algo mais que normal.

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08=VIII

Esse ser racional,

Irracional inda é.

Sem coordenação motora,

Não fala e nem fica em pé.

E se alguém o levantar,

A tendência e se desabar

Ou andar em marcha ré.

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09=XIX

Os seus pais não perdem a fé,

Cuidam com muito prazer.

Falam em língua nhenhenhém,

Que ninguém pode entender.

E assim ele vai crescendo

Convivendo e entendendo,

A fase sobreviver.

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10=X

Com um ano se pode ver,

Os seus dentinhos nascendo.

As reações são diversas,

Ao que está acontecendo.

Começa a balbuciar

Palavras e engatinhar

E entende o que estão dizendo.

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11=XI

Os cabelos vão crescendo,

Já não fica mais parado.

Se agarra em tudo o que vê...

Não quer ser contrariado.

Aos poucos começa andar,

Correr, cair, levantar...

Fase: cuidado dobrado.

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12=XII

Nessa fase é engraçado,

A todos já contagia.

Faz caretas, faz biquinho...

Enche a casa de alegria.

Chama papá e mamã,

Chega a provocar afã,

Mas sua luz irradia.

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13=XIII

Isso até que chega o dia,

Que devemos preparar.

Pra os primeiros desafios,

Sem ter que traumatizar.

Primeiro laço quebrado,

Chega à fase aprendizado,

Escola em vez de brincar.

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14=XIV

O mais normal é chorar,

Espernear, fazer drama,

Dizer eu odeia os pais,

Não querer sair da cama.

Mas com cuidado e carinho,

Tudo passa rapidinho

E o mesmo diz que te os ama.

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15=XV

Manter acesa essa chama,

De um bom relacionamento.

Vai ser muito importante,

Para os pais e o rebento.

Faça tudo que é preciso,

Mas acate o meu aviso,

Nunca tente cem por cento.

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16=XVI

O ser humano é sedento,

De atenção e poder...

Os pais que tentam dar tudo,

Impedem-no de crescer.

Quem tem tudo é dependente,

Propicio a ser mais carente,

Dependência estraga um ser.

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17=XVII

E a tal medida do ter,

Sempre estará presente.

Em todas as fases da vida,

Do bicho chamado gente.

Por isso tome cuidado,

Não fabrique um bitolado,

Limitado e dependente.

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18=XVIII

Na fase adolescente,

Que é depois da juvenil.

Começam as transformações...

O corpo fica febril.

É a fase das descobertas,

Das conclusões mais incertas

E dos dez anos a mil.

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10=XIX

O comportamento hostil,

Nessa idade aflora mais.

Não escuta mais conselhos,

Faz zombaria dos pais.

Ignora os precipícios,

Fica vulnerável aos vícios,

Gosta de coisas banais.

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20=XX

Quase todos são iguais,

Mas regras ter exceção.

O que recebeu as doses

De carinho e educação

E a família como base,

Supera bem essa fase,

Ileso ou quase são.

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21=XXI

Surge a primeira paixão,

Que parece verdadeira.

Depois o primeiro amor

E a primeira rasteira.

Mais uma vez é preciso,

Compreensão e juízo,

Senão cai na bagaceira.

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22=XXII

Depois que a paixão primeira,

Deixa até de ser paixão.

É o primeiro sinal,

Que houve a superação.

A vida volta ao normal,

Uma fase chega ao final

E a outra entra em ação.

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23=XXIII

É a fase da ambição,

Do eu posso, eu quero urgente.

Dos estudos e concursos,

Do que vier pela frente...

Do eu estabilizado

E dura até ser flechado

Por cupido novamente.

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24=XXIV

Sentindo-se independente,

Maduro e equilibrado.

Bebe na fonte do amor,

De um modo mais liberado.

É a fase: curtir a vida,

Onde amor não tem medida

E o sexo não é pecado.

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25=XXV

Quer amar e ser amado

E sente necessidade.

De ter o seu próprio lar

E a sua cara metade.

Acaba a fase curtir

E a que vem a seguir,

É a fase privacidade.

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26=XXVI

O desejo da trindade,

Vai surgindo em sua vida.

Ter seu sangue em outras veias,

Sua imagem repetida.

Pra o novo lar ter mais brilho,

Vem à fase ter um filho

E a criar, vem em seguida.

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27=XXVII

Um sem tempo, outro na lida,

Um fica em casa e se anula.

Cria o primeiro, o segundo,

O terceiro... E o caçula.

Acaba a privacidade,

A cara leva a metade

E o liberado, regula.

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28=XVIII

E por não ter vide bula

Ou manual de instrução.

Só os fortes sobrevivem

Dosando amor e paixão.

Os fracos podem ruir,

Quebrar o pacto e cair,

Na fase da traição.

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29=XXIX

A seguir, separação,

Ou não para quem se ama,

Mas vou contar a primeira,

Só por ser um mar de lama.

Essa fase é violenta,

Nenhum dos dois se aguenta

Só tem brigas, não tem cama.

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30=XXX

Um vira amante da Brahma,

Troca a casa por um bar.

Também pode virar crente

E ir para o culto orar.

Ou toma um banho de loja

E em vez de amar se espoja,

O resto é bom nem contar.

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31=XXXI

Fase reconciliar,

É a que vem em seguida.

Mas se um já se perdeu

Ou descobriu outra vida.

Pode durar por um tempo,

Mas com qualquer contratempo,

A tentativa é perdida.

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32=XXXII

Cicatrizando a ferida,

A vida entra em alinho.

Vira as costas pro passado,

Muda da água pro vinho.

E se alguém disser, se case...

Ouve a tão famosa frase,

É melhor viver sozinho.

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33=XXXIII

Encontra um novo caminho,

Não sofre mais por amor.

A essa altura por todos,

É chamado de senhor.

Dorme pouco ou quase nada,

Passa a ter vida regrada

E o corpo cheio de dor.

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34=XXXIV

Tem saber de um professor

Ou um mestre catedrático.

Só serve pra dar conselhos,

Ser chamado de lunático.

Se foi belo no passado,

Hoje no Maximo é chamado,

De tio ou senhor simpático.

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35=XXXV

Com o seu semblante apático

E o rosto desfigurado.

De jovem só o nariz,

O resto está enrugado.

Vive cheio de perguntas,

Duro só tem mesmo as juntas,

Não anda mais sem cajado.

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36=XXXVI

As lembranças do passado,

Sejam elas ruins ou boas.

Se tem são fragmentadas,

Ou forma de pulha e loas.

A essa altura também,

Não vê nem escuta bem

E se isola das pessoas.

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37=XXXVII

Fases vazias e a toas,

Dias longos e cinzentos.

Noites frias e sombrias,

Clausuras e sofrimentos.

E os traumas da solidão,

Mas isso ainda não são

Os seus piores momentos.

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28=XXXIII

Vem a fase três eventos,

Um tomar banho de sol,

Dois, é ver o sol se por,

Três, se enrolar num lençol.

Passar a noite gemendo

E acordar se maldizendo,

Com o corpo em forma anzol.

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39=XXXIX

Com a coluna em caracol

E sem poder reagir.

Definhando a cada dia

E tendo que assistir.

A sua queda, seu fim,

Essa é a fase mais ruim,

Pior não pode existir.

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40=XL

Mas a pior ta por vir,

Junto com a idade que avança.

Coração não bate, apanha,

O corpo perde a sustança.

E as pessoas que o rodeiam,

Uns desdenham, outros odeiam

Ou só te vê como herança.

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41=XLI

Volta à fase ser criança,

De crescente a decrescente.

Sem coordenação motora,

Só que agora é decadente.

Foi chegada, hoje é partida,

Algumas fases da vida...

É nu, careca e sem dente.

*

Fim

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02/09/2010

Damião Metamorfose
Enviado por Damião Metamorfose em 03/09/2010
Reeditado em 23/08/2016
Código do texto: T2476906
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