MINHA HISTÓRIA
    MINHA VIDA.


Foi ano de cinquenta e seis,
Que algo aconteceu,
No seringal Boa Vista,
Que esse fato se deu,
Em um humilde casal,
Que em desfecho afinal,
Duas crianças nasceram,

O pai era nordestino,
Do sertão do Ceará,
A mãe era acreana,
Do rio Tarauacá,
Já seis filhos possuíam,
E aos gêmeos se uniam,
Foram por ali morar.

Por Cosme e Damião,
Os Gêmeos foram batizados,
Pelo padre Adolfo Rholl,
Capelão do povoado,
Dois menininhos magrelos,
Foram para Porto Velho,
Pelos pais acompanhados.

A mãe com suas crianças,
Ficaram ali se instalar,
O pai e o filho mais velho,
No seringal foram trabalhar,
E assim foram crescendo,
E aos poucos aprendendo,
Pra vida poder encarar.

Já estavam com sete anos,
E um fato triste se deu,
Em um surto de sarampo,
O gêmeo acometeu,
Deixando o entristecido,
De sarampo recolhido,
O Damião faleceu.

O outro ficou tristonho,
Com a falta do irmão,
Até as roupas de ambos,
Eram do mesmo algodão,
E Cosme ficou sozinho,
Cercado pelos carinhos,
De seus pais e seus irmãos.

No ano de sessenta e quatro,
Os pais resolvem se mudar,
Para um outro seringal,
Buscando ali trabalhar,
Saíram então da cidade,
E eu de pequena idade,
Tive que acompanhar.

Fomos parar num lugar,
Por nome de Angustura,
Nas margens do rio Machado,
Uma intrigante aventura,
Junto com outras famílias,
Eu coitado nem sabia,
Que sofreria agruras.

Passamos ali trinta dias,
A espera de um patrão,
Num porto Jacaré Tinga,
Às margens do Machadão,
Lembro como se fosse agora,
Homens, meninos e senhoras,
Todos num só Barracão.

Após esses trintas dias,
Subimos pro seringal,
Passando por Tabajara,
Acampamento ideal,
A viagem se seguia,
Eu e toda minha família,
Lá pro setor principal.

No seringal de seu Rocha,
Ficamos a trabalhar,
Seu gerente o Lourival,
Sujeito ruim de amargar,
Guardo em minha lembrança,
Quatro horas de distancia,
Foi onde fomos morar.

Papai, mamãe e meus irmãos,
Passamos dois anos ali,
Nossa casa era de palhas,
Cercada por açaís,
A nossa colocação,
Chamava-se conceição,
A quatro horas do Anari.

Assim foi a minha infância,
Não pude dela gozar,
Pois todas as madrugadas,
Saia pra trabalhar,
Isso de segunda a sábado,
Nos domingos ou feriados,
Tinha cocos pra juntar.

O coco de babaçus,
Usado para queimar,
Numa pequena  fornalha,
Fazendo assim esquentar,
E ali todos os dias,
Esse instrumento acendia,
Pra borracha defumar.

Subimos do anari,
Para um outro seringal,
Nas águas do rio machado,
Ali foi que me dei mal,
Nas águas das cachoeiras,
Em tremendas corredeiras,
Triste bocado sem sal.

Nessa bendita viagem,
Eu quase perdi a vida,
Na cachoeira Monte Cristo,
A queda d’água temida,
Passamos o dia molhado,
Como frangos ensopados,
Com frio e sem comida.

Quando foi chegando a noite,
Entramos todos no batelão,
Exceto meu primo Edson,
Corajoso feito um cão,
Ali o bicho pegou,
Quase tudo terminou,
Indo a pique a embarcação.

Depois de todo sufoco,
Que passamos na viagem,
Então no Riacho Elo,
Fizemos nossa estalagem,
Dali viemos morar,
Dentro de Ji-Paraná,
Só com a cara e coragem.

No bairro dois de abril,
Na casa de Dona Preta,
Fiquei ali alguns meses,
E vi a avó pela greta,
Numa noite cheia de gente,
Sofri um grave acidente,
Causado por bicicleta.

Nesse terrível acidente,
Fiquei de boca quebrada,
E um grande corte na perna,
E roupa ensangüentada,
O machucado sarou,
Mas a cicatriz ficou,
Como prova comprovada.

No ano de sessenta e nove,
Retornei pra capital,
Com quase dezesseis anos,
Na casa de um casal,
Foi quando entrei na escola,
Já bem passado da hora,
Um matuto original.

A minha primeira escola,
Chamava-se Samaritana,
No bairro da olaria,
Para mim era bacana,
E a minha professora,
Chamava-se Auxiliadora,
Uma freira franciscana.

Passei pra segunda série,
Isso já é outra história,
Fui pro Duque de Caxias,
Onde aprendi jogar bola,
Ali sim fui premiado,
Por ter duas vezes ganhado,
Os concursos da escola.

Lá nessa dita escola,
Todo ano se lançava,
Um concurso de escritas,
Que todos participavam,
Num dia determinado,
Todos eram avaliados,
E o melhor se premiava.

Ainda nesse colégio,
Fui por todos indicado,
Como aluno modelo,
Por ser muito dedicado,
Inscrito participei,
E mais uma vez ganhei,
Isso em nível de estado.

Ano de setenta e um,
O território lançou,
Por Theodorico Gaiva,
Um concurso publicou,
E quem fosse o primeiro,
Recebia cem cruzeiros,
Das mãos do governador.

Alem do premio em dinheiro,
O ganhador recebia,
Uma linda bicicleta,
Que ele próprio escolhia,
Quase morri de alegria,
Por receber nesse dia,
Honras que nem merecia.

Ano de setenta e quatro,
Morando na capital,
Eu trabalhei oficie boi,
No velho Banco Real,
Este ano mudou tudo,
Abandonei os estudos,
Fui pra lavoura afinal.

No município de jaru,
Fui pra casa de um cunhado,
Não sabia fazer nada,
Desses trabalhos forçados,
Ai entrei numa roubada,
Peguei uma empreitada,
Pra derrubar de machado.

Tal de Vicente Sabino,
O famoso Vicentão,
Velho de papo afiado,
Mentiroso e beberrão,
Recebeu antes da hora,
Gastou e deu logo o fora,
Foi triste a situação.

Nessa altura só restava,
Encarar essa dureza,
De derrubar toda a roça,
Contra minha natureza,
Passei por toda essa aflição,
Pra comprar um violão,
Um Gianini que beleza.

Tudo isso por que tinha,
Um sonho de ser cantor,
Isso já em setenta e cinco,
Comecei então compor,
Mas a cachaça malvada,
Entrou no meio da jogada,
E meu sonho se acabou.

Trabalhando de peão,
Para todo sitiante,
Ia guardando o dinheiro,
Para o momento importante,
Casei constituí família,
Com um ano tive uma filha,
Oh vidinha intrigante.

Ano de oitenta e um,
Com três anos de casado,
Trabalhei de professor,
Neste sitio isolado,
Uma escola pequenininha,
Cobertura de tabuinha,
Era o taperi falado.

Em abril de oitenta e três,
Vivi a primeira insônia,
Um Tal Gilberto Mestrinho,
Governador do Amazonas,
Através da enganação,
Lotou muita embarcação,
Com famílias de Rondônia.

Lá se vai o velho trouxa,
Sem pensar no amanhã,
Abandonar o emprego,
E num dia de manhã,
Embarcamos numa lancha,
Em busca de uma esperança,
Num tal Nova Aripuanã.

Ali fiquei quinze dias,
Morando em acampamento,
Mil e quinhentas famílias,
Exposta ao sol e ao vento,
Homem mulher e crianças,
Em busca de uma herança,
Que não se esvai com o tempo.

Por sentir-se ali exposto,
Sem conforto de verdade,
Aluguei uma casinha,
Num canto dessa cidade,
E passei a percorrer,
As terras pra conhecer,
A minha local herdade.

Como não gostei da terra,
Peguei de volta o caminho,
Num tal barco dois de junho,
Reservei o meu cantinho,
Nós os pais filhos e um velho,
Viemos pra Porto Velho,
Morar num tal caladinho.

Vivendo ali sem emprego,
E sem casa pra morar,
Trabalhando de servente,
Uma vida de amargar,
Isso em oitenta e quatro,
Esse rondoniense nato,
Tem muito para contar.

No ano de oitenta e cinco,
Outro destino tomei,
Voltando para Jaru,
Dia trinta do mês seis,
Então fui morar na roça,
Assim para a sorte nossa,
Pra educação voltei.

Ai a vida endureceu,
Três trabalhos ali eu fazia,
Cortar seringa de madrugada,
Findava quando amanhecia,
Às sete horas de bicicleta,
Montava e pegava a reta,
Rumo à escola assim seguia.

Na Floriano Peixoto,
Trabalho multe-seriado,
Porem ás duas da tarde,
Já cumprido o contratado,
Pegava de volta a estrada,
Uma correria desenfreada,
Findava o dia no roçado.

Assim foi um ano e meio,
Trabalhando noite e dia,
Já Com dois filhos pequenos,
Em destampada agonia,
Então pra sufoco meu,
Minha esposa adoeceu,
Deixando-me numa fria.

Parece que a enfermidade,
Era até paranormal,
Penso até que adivinhava,
A minha sorte atual,
Se o salario eu recebia,
A mulher adoecia,
E eu levava ao hospital.

Porem em um certo dia,
A coisa se agravou,
Lembro-me foi num domingo,
Minha esposa piorou,
Então paguei um parceleiro,
Que por trezentos cruzeiros,
Ao hospital nos transportou.

Esse homem se chamava,
Pelo nome de Carlito,
Brabo feito uma onça,
Um ignorante esquisito,
Por graças do pai amado,
Fez-me esse frete fiado,
O jipe era igual cabrito.

Era um dia de chuva,
Saímos de madrugada,
Derrapando a todo tempo,
Nos barrancos da estrada,
Enquanto nós nos valia,
Minha esposa gemia,
Com a vesícula inflamada.

Chegamos lá em Jaru,
No hospital São Camilo,
Um tal de doutor Guilherme,
Atendeu-me sem impecilio,
À minha esposa internou,
E seus exames marcou,
Deixando as coisas nos trilhos.

Após fazer os exames,
Constatou-se a enfermidade,
Transferindo-a de hospital,
Para outra entidade,
O doutor Janssen a internou,
E a cirurgia realizou,
Ali naquela cidade.

Continuo em Rondônia,
No oficio de professor,
Moro em Mirante da Serra,
Cidadezinha do interior,
Assim vou continuando,
A vida assim vou levando,
Com fé semeando amor.

Um pouco de minha vida,
Contei pra o caro leitor,
Tudo que disse é verdade,
Da vida desse escritor,
Que escolheu por opção,
Trabalhar na educação,
No oficio de professor.

18/10/2010.
CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 18/10/2010
Reeditado em 18/10/2010
Código do texto: T2564202
Classificação de conteúdo: seguro
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