Peleja entre Mestre Daudeth Bandeira e João Rolim

Manuel Bandeira de Caldas, o Daudeth Bandeira, paraibano de São José de Piranhas, é poeta, mestre cordelista, compositor, escritor e advogado. Esta pequenina peleja, de apenas oito estrofes, foi escrita, "de brincadeira", no momento da feitura de um livro de estudo em Literatura de Cordel da escritora Aurea Sampaio, para fazer parte do mesmo, já que João Rolim e Daudeth Bandeira são dois dos 24 cordelistas citados na obra, ao lado de Patativa do Assaré, Pinto do Monteiro, Cancão, Lourival Batista, dentre outros. Essa peleja, intitulada "SEM VERBOS" tem esse nome justamente porque não possui verbos, forma que os poetas encontraram de brincar com as palavras e a sequência dos versos, quebrando a estrutura fundamental de uma frase: sujeito, verbo e complemento. A peleja segue no estilo de Décima: dez versos de sete sílabas poéticas, na qual foi adotada a sequência de rimas ABCBDDEFFE.

Daudeth Bandeira - Mundo velho, grande e cheio

De planos, altos e baixos,

De mares e cordilheiras,

Rios, lagos e riachos,

Água, fogo, vento e terra,

Montanha, pináculo e serra,

Oceano raso e fundo,

Fauna, flora, bicho e fera,

Nuvem, vento, atmosfera,

Partículas vivas do mundo.

João Rolim – Vivo vale tão profundo

De beleza e santidade

Serras, montes e chapadas

Todos cheios de bondade

Cantos belos, belos cantos

Sempre vivos nos recantos

Da torrão dos ancestrais

Terra boa, mui singela

No planeta de aquarela

Todas cores dos cristais

DB - No reino dos animais,

Anfíbios, répteis, batráquios,

Aves e seres humanos,

Literalmente terráqueos,

Primatas e dinossauros,

Mastodontes e centauros,

E entidades exóticas,

Arquiteturas rupestres

De imagens extraterrestres

Colossalmente estrambóticas.

JR - Todas rimas bem bióticas

Da natura da floresta

Do cimento das cidades

Ou dos sons desta seresta

Animais de todo jeito:

Todo bicho, não malfeito

Sangue frio ou sangue quente

Ou de pele, ou mesmo escama

Ovo, larva ou mesmo mama

Êta Deus inteligente!

DB - Salve Deus Onipotente,

Criador do universo!

Autor do céu e da terra,

Perfeito e incontroverso;

Chefe da força e da calma,

Vida, morte, corpo e alma,

De homens, deuses e heróis,

Digno de todos troféus

Desembargador dos céus

E totem de todos nós.

JR - Orações belas a Vós

Só, pra Ti, Deus da alegria

Rei de tudo, Rei da vida

Redentor dessa poesia

Meu Senhor, Meu Grande Mestre,

Eu pequeno, só terrestre

Tantos erros, tão insano

Ó, meu Deus da providência

Meu Pastor da coerência

E das artes, Soberano

DB - Eis o nosso corpo humano,

Conjunto de carne e osso,

Pele, nervo, sangue e músculo,

Cabelo, crânio e pescoço,

Coluna, braços e pernas,

Partes internas e externas,

Artérias, rins e pulmão,

Olhos, cílios, sobrancelhas,

Boca, nariz e orelhas,

Baço, veia e coração.

JR - Ossos, articulação,

Bulbo, ponte, cerebelo

Intestino fino e grosso

Pênis, pâncreas, pé e pêlo,

Seio, fígado e vagina,

Língua, cérebro e narina

Alta voz ou afonia,

Linfonodos na defesa,

Corpo humano de pureza

Tão perfeita anatomia.

Espero que tenham gostados, poetas e leitores. Um grande abraço.

João Rolim
Enviado por João Rolim em 24/10/2010
Código do texto: T2575587
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