CARTA A PAPAI DO CÉU...- Cordel Matuto

CARTA A PAPAI DO CÉU...

Literatura de Cordel

Autor: Bob Motta

N A T A L – R N

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Jesus, certa vêiz eu dixe,

no meu verso, in oração,

qui carregava in meu peito,

uma imensa frustração.

Mais tudo o qui arricibí,

ali mêrmo, agradicí,

in cada um duis versos meus;

e prá minha frustração,

de num tocá violão,

pidí auxílio de Deus.

Passô dias e sumana,

passô mêis e passô ano,

e nada dêsse poeta,

realizá o seu prano.

In tôdas ais entidade,

qui eu percurei, na verdade,

in vão, me matriculá;

num aicancei meu intento,

pruquê naquêle momento,

num tinha vaga p’ru lá.

E pegue o tempo corrê,

e pegue eu corrê atráis,

dêsse meu sonhe munto antigo,

do meu tempo de rapaiz.

O Sinhô, vendo a labuta,

o duro da minha luta,

quis me ajudá na pelêja;

incolocô eu nais mão,

não, de um mestre in violão,

mais in viola sertanêja.

Pai do Céu, já faiz dois mêis,

qui eu cumecei do zero.

Acumpanhá meus poema,

eu mêrmo; é o qui mais eu quero.

Tu me butô na iscola,

mode eu aprendê viola,

caipira; e não, violão;

qui é prumode dá mais certo,

prá eu cantá, de peito aberto,

ais coisa do meu sertão.

Eu te prometo cantá,

o amô, a anti-guerra,

a paiz, uis jardim, uis campo,

de tôda face da terra.

Quero levá no meu canto,

o riso, in lugá do pranto,

quero cantá a belêza;

tôdas dádivas Divina,

a istrêla matutina,

e a nossa mãe naturêza.

Quero cantá o pô do só,

cantá musga apaixonada,

ais brasa de uma fuguêra,

o orváio da madrugada.

O riso de uma criança,

o oiá chêi de isperança,

de um sufrido agricurtô;

o ribombá do truvão,

o relâmpo e seu clarão,

num inverno promissô.

Ilumine minha mente,

qui é mode eu assimilá,

a prática e a teoria,

qui o meu mestre me insiná.

Amuleça nuis meus dedo,

ais junta, prá eu num tê mêdo,

na hora de praticá;

daí-me fôrça e corage,

mode eu, in minha bagage,

mais êsse dom, agregá.

Pai, me dê tempo; inda quero,

sardá uis dono dais casa;

nuis terrêro, ais canturia,

e o míi assando na brasa.

Eu sei qui num é brincadêra,

já tô descendo a ladêra,

na istrada da izistença;

dêxe eu alegrá meu pôvo,

mêrmo eu num sendo tão nôvo,

te peço, meu pai; cremença.

A minha Budega Véia,

tombém quero in meu cantá,

o avuadô sêco, o fumo,

a agúia de palombá.

O vaquêro aboiadô,

quero cantá, meu Sinhô,

qui nem nais véia vitrola;

prá eu sortá, apaixonado,

meus versos, metrificado,

dediando na viola.

Quero sardá pontiando,

o canto duis passaríin.

O chiado duis mocó,

uis cabrito e uis burrêguíin.

Uis bode pai de chiquêro,

uis pião, uis fazendêro,

ais cabra, uvêia e o café;

cantá uis ispíin, ais rosa,

e a jóia mais priciosa,

qui tu fêiz, qui é a muié.

Quero cantá ais pruêza,

do muleque de recado,

ais festa de apartação,

ais pega de jegue e gado.

Num quero cantá discórdia,

mais tua misericórdia,

vô amostrá in todo canto;

Meu Pai, cum a tua benção,

sorto no mundo, a emoção,

qui tá cuntida in meu pranto.

Quero cantá para o mundo,

ais fruita, ais pranta, ais rosêra.

Uis Santo, Antôin, Pêdo e João,

e uis tiro de ronquêra.

Vou cantá o carro de boi,

meu passado qui se foi,

qui amufumbei na lembrança;

minha mãe maraviosa,

a santa mais carinhosa,

canto e vorto a sê criança.

É prá isso qui eu te peço,

prá mais um tempo, me dá.

Mode in verso e na viola,

teu amô, eu ispaiá.

Me ajude, Pai; tão somente,

a guardá na minha mente,

todas ais minhas lição;

prá qui êsse eterno aprindiz,

faça o seu povo feliz,

do litorá ao sertão.

Minha musa inspiradôra,

tá pertíin, mora mais eu.

Um presente incaiculáve,

qui tu, Pai do Céu; me deu.

Nóis arenga, tem refrega,

quando faiz ais paiz, chamega,

te agradeço o dia a dia;

Pai; meu camíin é de luz;

tudo tenho cum Jesus,

nada tenho, sem Maria!...

Autor: Roberto Coutinho da Motta

Pseudônimo Literário: Bob Motta

Da Academia de Trovas do RN.

Da União Bras. de Trovadores-UBT-RN.

Do Inst. Hist. e Geog. do RN.

Da Com. Norte-Riograndense de Folclore.

Da União dos Cordelistas do RN-UNICODERN.

Da Associação dos Poetas Populares do RN-AEPP.

Do Inst. Hist. e Geog. do Cariry-PB.

E-mail: bobmottapoeta@yahoo.com.br

Site: WWW.bobmottapoeta.com.br

Busca no Google: Bob Motta Poeta Matuto.

Obs.- Todos os dias, 6:30 Hs. da manhã, hora de Brasília, estou declamando meus poemas matutos na FM 98 - Natal-RN. É só acessar www.98fmnatal.com.br

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 01/11/2010
Código do texto: T2591442
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