Na casa que mãe morou

Depois que mamãe morreu

Tudo ficou diferente

Na casinha que a gente

Muito tempo conviveu

Uma aranha já teceu

Longa teia na janela

Porque quem limpava ela

Da morada se ausentou

Na casa que mãe morou

Só mora a saudade nela

No quarto que mãe dormia

Não escuto mais ressono

Que a dona dorme outro sono

Debaixo da terra fria

Na cozinha já não chia

Na pressão uma panela

Sem ter nada dentro dela

A ferrugem se apossou

Na casa que mãe morou

Só mora a saudade nela

Os móveis empoeirados

O lixo cobrindo o chão

Baratas sobre o fogão

Morcegos dependurados

Guabirus esfomeados

Mastigando uma chinela

No quintal uma cadela

Que sem a dona ficou

Na casa que mãe morou

Só mora a saudade nela

No guarda-roupa do neto

As roupinhas arrumadas

Limpinhas e engomadas

Tratadas com muito afeto

Debaixo do mesmo teto

Sob a sua curatela

Gozou os carinhos dela

Mas pouco tempo durou

Na casa que mãe morou

Só mora a saudade nela

Foi a casa pequenina

Feita com dificuldade

Afastada da cidade

Nos confins de Petrolina

Nunca andou gente grã-fina

Só a nossa parentela

Pai sofreu pra fazer ela

De lá também se mudou

Na casa que mãe morou

Só mora a saudade nela

Nesta casa fui feliz

De criança até adulto

Nunca se viu um tumulto

Porque tinha diretriz

Mamãe era imperatriz

Governava com cautela

Hoje parece uma cela

Que a solidão me trancou

Na casa que mãe morou

Só mora a saudade nela

O nosso lar foi um ninho

De paz e fraternidade

Reinava felicidade

Amor, respeito e carinho

O meu pai era Joãozinho

A minha mãe Rafaela

Pai se foi e mamãe bela

Mais tarde o acompanhou

Na casa que mãe morou

Só mora a saudade nela

Pra não vê-la abandonada

Eu já chamei um pedreiro

E disse: faça ligeiro

Uma reforma apressada

Lá vai ser minha morada

Até na hora da vela

E só vou me afastar dela

Como mamãe se afastou

Na casa que mãe morou

Vou morrer morando nela

Paulo Robério Rafael Marques

PAULO ROBERIO
Enviado por PAULO ROBERIO em 12/10/2006
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