02 - O fenômeno da ingravidação

INQUANTO ELES TÃO LÁ ROUBANDO, CÁ EU TÔ FAZENO O POVO SURRÍ

Da série: O cacete armado

O fenômeno da gravidação

Airam Ribeiro

Todas as moça qui foi lá

Na sintinela de seu Betão

Suspirava só no oiá

E os pensamento era bão

Tanta potença pra um difunto

E elas a dimirá alí junto

Bem incostada no caxão

Com a morte de seu Betão

Muita coisa cunticeu

Passados nove mês intão

Muitas criança nasceu

Foi cuma se fosse milagre

As moça cás gravidagi

Sem quebrá o negóço seu.

As moça vigi gravidáro

Sem perdê a vigindade

Isso cauzô comentáro

In todo canto da cidade

Foi o pau de seu Betão

Que fez essas cauzação

Foi mermo u'a milagridade!

Foi um grande arvoroço

Era só isso qui cumentava

Aquele angu de caroço

Nas rodinha era o qui dava

E a nutiça foi ispaiano

E muita gente viajano

E no cemitéro xegava.

A cidade omentô as renda

Hoje tem ôinbus circulá

Muitos compráro fazenda

Cum o turismo qui ta lá

Pois muitos cum sua fé

Qué vê seu Betão impé

Na escutura do lugá.

Na carnêra do seu Betão

Feito de concreto armado

Tem a escurtura então

Qui todos óia adimirado

A curnixa ta lá durinha

Inda ta cum tinta fresquinha

Pra ficá mais abunitado.

A fila dobra os quarteirão

Dos povo qui vai visitá

As imagizinha do seu Betão

Todos qué uma cumprá

As sorterona por sua vêiz

Compra logo é mais de três

Só afim de ingravidá.

A fama do seu Betão

O mundo intêro já correu

Tem japonêis do Japão

Qui pur aqui apariceu

Tão quereno pesquizá

O fenômeno de ingravidá

Só cum o pensamento seu.

Inquanto isso o prefeito

E a crama de vereadô

Já arranjáro um jeito

E os imposto aumentô

Uma catraca puzéro

Na porta do cemitéro

Foi o qui eles inventô.

E a muié do seu Betão

Botô inté devogado

Ta quereno denização

Do seu marido coitado

Murta pur danos morais

E outras tanta a mais

Por do nome tê abusado.

Tem inté baxa assinada

Pra demulí a escurtura

Feito pur u'a crentaiada

Qui ta agino cum frescura

Dizeno qui o tár do pau

É uma coisa imoráu

E qui é coisa da criatura! (diabo)

O fenômeno de seu Betão

Já ajudô muita gente

Quem só cumia caturrão

Hoje ta rino cuns dente

Só come filé mion

Dizeno qui tempo ta bom

E qui todos tão contente.

No dia dois de novembo

Foi o dia dos finado

Nesse dia inda mi alembo

Tinha gente pur todo lado

Todos quiria pegá

Nun cuntentava em oiá

O bixin de concreto armado.

Óia o pau de seu Betão!

Os mascate dana a gritá

É de jacarandá dos bão

Venha aqui para comprá

Venha logo freguêiz

Leve quato e pague três

A oferta é especiá.

Vela lá ascende tanto

Qui virô inté um clarão

Só farta xamá ele de santo

Mais isso o papa qué não

Essa sua curnixaria

Li alembra pidofilia

É isso aí, eis a questão!

Os milagre de seu Betão

De fazê as moça ingravidá

Tem gente de religião

Qui ta quereno pesquizá

E pur falá in religião

Eu aqui páro intão

Pra o cauzo nun cumpricá.

Nutiça de premera mão!

Pra esta personalidade

Já teve as votação

E foi pur unanimidade

Vão fazê a construção

Da estátua de seu Betão

Na entrada da cidade.

Airam Ribeiro
Enviado por Airam Ribeiro em 23/12/2010
Reeditado em 24/12/2010
Código do texto: T2687526
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