Só fiz o terno! / interagindo com Hull de La Fuente

Só fiz o terno!

Airam Ribeiro 26/01/11

Na hora fiquei afobado

Qui foi aquela correria

Já cum o rádio disligado

Fui abraçá a famia

Sem pensá em pagá mico

Gritei agora tamo rico

Pois ganhamo na loteria!

Foi xegano logo os povo

Qui viéro min pidí

Dei frigidêra de fritá ovo

A bicicreta do Didi

Fila ia nesses mundão

Dobrava dez quarteirão

Vida de rico eu vivi.

Minha casa ficô um ôco

Pois eu dei inté o fugão

Pur dimais inda dei trôco

Dano pra Dema o coxão

Do muro dei os tijolo

Dei biscoito, dei bolo

Dei inté a tulevizão

A minha motocicleta

Dei para o fio de seu Zé

A muié deu a bicicleta

Para a fia de seu Mané

A mesa e a pratelêra

Inté memo a geladêra

Foi dado pro seu Quelé.

Inté a jinela da casa

Pensei já que vô trocá

Vô da prá fia de Masa

U’a de vrido vô comprá

E colocá u’a cum persiana

Vô tê a vida bacabna

Nunca mais vô trabaiá.

E fui dano as coisa véia

Qui prum pobre era novim

Distribuí pra pratéia

Inté qui a fila xegô ao fim

Nun tinha mais nada pra dá

Tonce resorví banhá

Lá nun véio xuverin.

E a casa ficô vazia!

Foi imbóra os pididêro

Lá vô eu pra loteria

Pra pegá os meu diêro

O biête a moça oiô

E disse assim: meu sinhô,

Xega de tanto izagêro!

Só um terno ocê ganhô

Vai recebê quarenta e seis

Meu Deus do céu qui orrô

Valei-me minha santa Inêis

Cabousi minhas aligria

Minha casa está vazia

Dei inté a fêra do mês!

Tô mais pobre qui já era

Minha vida vi distruí

As coisa ta braba é divéra

Tudo qui tinha vi parti

Num tenho mais fugão

Só xão duro sem coxão

E nem cama preu drumí.

Peguei os quarenta e seis

E fui prum bar da praça

Tomei logo umas trêis

Coparada de caxaça

E saí doido dano rizada

Dano umas gritarada

Morreno de axá graça.

Fiquei mêi aluado

Os povo dizeno Vigi Maria!

Já todo cambaleado

E pela praça a gritaria

Os povo preguntano o que é?

Um respondeu foi seu Zé

Qui fez o terno na loteria!

Caí depois de tumá sêis

E uma puliça min feiz favô

De min levá pro xadrêiz

E lá o sono min pegô

Drumí no xão de cimento

Mais tarde vêi um sargento

E pra minha casa min levô.

Vortei de novo pra inxada

Fazê os calo nas mão

Faço roça na xapada

Bem perto do boqueirão

Drumo no coro do boi marruêro

Inté arranjá diêro

Pra comprá outro coxão.

Hull de La Fuente

Meu cumpadi caridoso

qui afrição é a tua

pur tê sidu generosu

já drumiu inté na rua

drumiu inté na cadeia

pur tá cum a cara cheia

numa bela noiti di lua.

Hoji tá recomeçanu

cum suas mão calejada

aos pocu recuperanu

do inganu, da inrascada.

Inda beim qui seu burrim

valoroso e bunitim

é tua sorti premiada

Num fossi ele ajudá

Levanu verdura e aipim

na feira municipá

tu tinha chegadu au fim.

Agardeça ao Odoricu

u seu amigu burricu

cê hoji tá bem anssim.

Océ é trabaiadô

Já infrentô muita afrição

Mai Deus sempri ti ajudô

a sigui sua missão.

O cê vai tê tudu im dôbro

Nova muié, novo sogro

aqueti seu coração.

Cuma Deus feiz cum u Jó

vai ripiti cum ocê

vai ti dá oro im pó

pramodi tu aprendê

qui a verdadera riqueza

é a sarvação cum certeza

qui ninguém podi perdê.

Cumpadi, um bejão pra vosmicê, Hull

Airam Ribeiro
Enviado por Airam Ribeiro em 26/01/2011
Reeditado em 04/02/2011
Código do texto: T2752813