JOÃO VIRA MUNDO E OS ANÕES COM O POTE DE OURO
No reino da Paledônia
Na capital do reinado
Tinha um velho palacete
Que era mal assombrado
Ninguém passava pôr lá
Que não saia de lá melado
A poucas léguas dali
Numa cidade vizinha
Morava um camponês
Bom criador de galinhas
Pai de João vira mundo
E de Maria Terezinha
O velho Antônio João
Havia perdido a esposa
Mordida pôr um cachorro
Que parecia uma raposa
Mais ele matou o bicho
E espichou numa lousa
Ficou só com os dois filhos
Numa peleja danada
Um dia João vira mundo
Botou os pés na estrada
Foi procurar aventuras
Sem destino e sem parada
Saio pelo mundo afora
Sem temer a escuridão
Nos ombros um bornal de couro
Na cintura um facão
Um galinha assada com farinha
E muita disposição
Quando foi já de tardinha
Ele chegou ao palacete
Bateu palmas no portão
Não achou um alfinete
Abriu a porta e entrou
Pois conhecia o macete
Chegando lá dentro ouviu
Uma voz a resmungar
Dizendo aqui comigo
Você não vai se deitar
Vá procurar outro canto
Para essa noite passar
João olhou pra todo lado
Não viu se quer um cristão
Disse pra voz avexado
Não gosto de assombração
Se você é vivo apareça
Que vou te enfiar meu facão
A voz a ele falou
É meu este palacete
Procure onde dormir
Ou vá lamber sabonete
Se pegar com muito lero
Vou te meter o cacete
João disse a ela apareça
Mostre a cara par que eu à veja
Pois comigo você vai ver
Como se roda uma bandeja
Do jeito que eu estou aqui
Eu não rejeito uma peleja
A voz disse pra João
Aqui no meu palacete
Quem canta de galo sou eu
Vou matar a tua sede
Você vai comer do que eu der
Entre estas quatro paredes
João vira mundo se zangou
Pegou no cabo do facão
A voz disse ai que medo
Você só é fanfarrão
Fazendo esse barulho todo
Pra depois molhar o calção
João lhe disse eu não conheço
Aqui em cima da terra
Quem me faça morrer de medo
Comigo o cabrito berra
Eu tiro seu couro e espicho
E a história se encerra
João ficou de pé na sala
Segurando o facão
Esperando que aparecesse
A tal de assombração
Igualzinho um touro bravo
Querendo enfrentar um leão
A voz se emudeceu
E tudo ficou calado
João se deitou em uma rede
E ali ficou deitado
Mais depois de algum tempo
Começou um novo fado
Uma porta se abriu
De lá saio um anão
Puxando um pote de ouro
Com uma espada na mão
Dizendo eu quero ver
Se você é homem ou não
Largou o pote de ouro
E caminhou apreçado
Rumo a rede onde João
Permanecia deitado
Jogou a espada nele
E pulou pro outro lado
João deu um pulo da rede
E caio de pés no chão
O anão lhe meteu a espada
Ele rebateu com o facão
Deu um tremendo salto mortal
Que acertou o anão
Nessa hora o anão gritou
Você agora vai me pagar
Porque eu não sou peteca
Para você vir me chutar
Vou chamar o meu irmão
Para vir me ajudar
Na mesma hora outro anão
Chegou trazendo um cacete
E partiu para João
Empunhando o porrete
Os dois tinham os olhos brilhantes
Parecendo um farolete
João já estava com a espada
Que pertencia ao anão
E partiu par cima deles
Parecendo um leão
Um touro bufando de raiva
Um Golias ou um Sansão
Depois de quase uma hora
Que eles estavam brigando
Tudo estava revirado
E o pau ainda estava quebrando
João acertou um dos anões
O outro ficou chorando
Largou o cacete e o pote de ouro
E saio em disparada
Como que perdeu as pernas
No meio de uma estrada
Só não perdeu as próprias calças
Porque estavam amarradas
João voltou pra sua rede
E foi outra vez dormir
Nada mais de animação
Se poderia ouvir
Parecia que a assombração
Tinha sumido dali
Quando foi no outro dia
Que João se levantou
Pegou o pote de ouro
No seu embornal botou
Vestiu um casaco de couro
E para casa voltou
Chegando lá foi contar
Tudo o que lhe aconteceu
Pegou o pote de ouro
E para seu pai ele deu
Passou apenas três dias
Depois desapareceu
Essa história é comprida
Mais vale a pena saber
Que nosso amigo vira mundo
Pelo mundo foi correr
Em busca de aventuras
Pro seu ego satisfazer.