LOUCO DE MORRER
Lindolfo era um caboclo
De olhos arredondados
Tinha fama de ser louco
Era bem desengonçado
Também fumava cachimbo
Tinha sempre alguém sorrindo
Do seu jeito engraçado
Mas ele era pequeno
E tinha as pernas tortas
Tinha um vidro de veneno
Escondido atrás da porta
E quando algum malandro
Fazia-lhe uma chacota
Saia então xingando
Chutando o que ia vendo
E saltando cambalhotas
Chegava assim em casa
Gritando, eu vou morrer
Ninguém vai com a minha cara
Pois sou feio de doer
Vou beber este veneno
E quando estiver morrendo
Não venham me socorrer
Chorava que nem menino
Depois ria igual hiena
Quem estivesse assistindo
Aquela sinistra cena
Pensava dentro de si
Num ritual frenesi
O pobre se envenena
Mas o cabra era atrevido
Se passando por coitado
Já devem ter percebido
O que estava guardado
Lá dentro daquele vidro
Do qual eu tinha falado
Era só cachaça da boa
Que esse caboclinho à-toa
Havia ali camuflado
Passado esse motim
Lindolfo caia ao chão
Já vinham logo assim
Ouvirem o seu coração
Mas o cheiro da cachaça
Acabava com a trapaça
E com toda a embromação