ASTÚCIAS DE UM ENGANADOR

No mundo tem muita gente

Cada um tem seu valor

Tem padre, advogado

O juiz e o doutor

E tem um que leva a vida

Numa atitude atrevida

É o sujeito enganador

Quer levar vantagem em tudo

E não mede consequência

Enganando todo mundo

Sem ter dor na consciência

Quando vê a ocasião

De enganar um cidadão

Toma logo providência

Dedicando-se à política

Ou a jogo de baralho

Quer saber se no final

Arrasta algum cascalho

Se para levar vantagem

For preciso sacanagem

Toma logo esse atalho

Faz tudo bem planejado

Com calma e paciência

Não usa a força bruta

Nem tampouco, violência

Para chegar ao seu tento

Usa com muito talento

Toda sua inteligência

Em matéria de mulher

Ele é bom conquistador

Usa todo seu encanto

A elas ele dá flor

Pra completar o joguete

Quando entrega o ramalhete

Cita versos de amor

Vai buscando um jeitinho

De causar boa impressão

Adquire a confiança

E conquista o coração

Viúva, moça ou donzela

A todas ele engambela

Sem piedade nem perdão

Vai sugando o que pode

Em dinheiro ou no cartão

E elas, apaixonadas

Nem dão conta da armação

Ficam cegas de amor

Pelo tal enganador

Só enxergam a paixão

Quando ele usufrui

De tudo que direito

Vai se saindo da moça

Sem fazer ato suspeito

Pois não quer nenhum problema

Pra não sujar seu esquema

E ficar tudo perfeito

Preste atenção nesse caso

Que agora eu vou contar

Ele não foi inventado

Você pode acreditar

E o caso acontecido

Contado pelo sabido

Faz a gente meditar

Que em certas situações

Não tem como escapar

Mesmo sendo enganado

Não dá pra desconfiar

O enganador vendo a chance

Não deixou passar o lance

Ele soube aproveitar

Pra cumprir uma missão

Ele entrou no cabaré

Procurou por uma moça

Com nome de Salomé

Sem fazer nada de drama

Convidou-a pro programa

Perguntando quanto é

Ela disse: “cem reais,

é o preço aqui cobrado”

Eles foram para o quarto

E ele pagou dobrado

A moça ficou contente

Pois o seu novo cliente

Deixou encontro marcado

Quando o moço foi chegando

À porta do cabaré

Esperando, ansiosa

Lá estava Salomé

Pra segurar seu freguês

Pois o agrado que ele fez

Conquista qualquer mulher

Foram logo para o quarto

Ao amor se entregando

As meninas do bordel

De inveja se acabando

Que é que tem a Salomé

Que só ela, ele quer?

Ficavam se perguntando

Quando saíram do quarto

Salomé era animada

Pois agora a gorjeta

Tinha sido aumentada

Ele agora deu trezentos

Cem a mais que os duzentos

Dados na noite passada

Na hora da despedida

Ele fez uma promessa

Voltaria outra vez

E teria uma conversa

Pra revelar a razão

De dar gratificação

E a maior seria essa

Esperando o outro dia

Salomé ficou aflita

Pensando como seria

Sua próxima visita

E pensando no dinheiro

Passou o dia inteiro

Numa angústia infinita

Entre as moças do bordel

A inveja já reinava

Só por causa das gorjetas

Que a Salomé ganhava

Não podiam entender

Só a ela ele querer

E pra elas nem olhava

Ao chegar, no outro dia

Encontrou a Salomé

Novamente esperando

Na porta do cabaré

As meninas só olhando

De inveja se matando

E ele nem dava fé

Quando saíram do quarto

Começaram a conversar

E ele foi derramando

O que tinha que contar

“Como eu lhe prometi

Vou contar tudo pra ti

E a missão eu terminar”

“Vim aqui te encontrar

Para fazer um favor

A pedido de tua mãe

Que por ti tem muito amor

Pra te entregar um dinheiro

E por isso eu vim ligeiro

Vou te dizer o valor”

“Ela mandou mil reais

E quinhentos já te dei

Vou te dar só mais trezentos

Pois duzentos eu gastei

As despesas da viagem

E outros gastos de hospedagem

E olha que economizei”

Rapariga é esperta

Mas essa foi enganada

Ela quis se revoltar

Mas não pode fazer nada

Pois o tal enganador

Tinha feito o seu favor

E ela estava apaixonada

Esse foi só mais um caso

Do astuto enganador

Peço que tome cuidado

Caro amigo e leitor

Fique sempre bem atento

Pois o cabra tem talento

No trambique ele é doutor.

Augusto Secundino
Enviado por Augusto Secundino em 13/04/2011
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