Tenho um amigo assim

Não quero mais choradeira

Não vou mais me lamentar

Daqui pra frente é besteira

Eu ficar sem me casar

To é ficando cansado

De não ter com quem falar

Era essa a intenção

Do rapaz que veio da roça

Criado pelo avô

Um “véio das perna torta”

Que sempre lhe impusera

Sua vontade idiota

Quando chegou à cidade

O garotão foi morar

De casa em casa de primo

Sem projeto pra tocar

Igual à vida de arrimo

Que o avô lhe fez passar

Não arranjou logo emprego

A não ser pequenos bicos

Ingressou na força aérea

Que era como ficar rico

...E não é que desgraçado,

Até que ficou bonito?

Entre um turno e uma manobra

Foi ficando homem de força

Desenvolveu pleno gosto

Pelas minas... Pelas moças!

E cada tostão do bolso

Acabava é com as garotas

Foi assim por muito tempo

Até que lhe deram baixa

Só aí que descobriu

O veloz que o tempo passa

Que amizade sincera

Não se tem fácil na praça

E mesmo não sendo craque

Ou algum especialista

Batalhou novo trabalho

Fez um monte de entrevista

Hoje é um bom portuário

Um dos primeiro da lista

Estabilizou as contas

Deu um breve breque na farra

Fez visita para avô

Retornou com toda garra

Sua vida foi aos poucos

Deixando a fase bizarra

Foi por isso que afirmou

Com tanta convicção

Que a vida que queria

Pra ter paz no coração

Era ter mulher e filhos

E tratá-los com atenção

Sabia que era difícil

Abandonar as noitadas

Romper com a liberdade

Viver uma vida parada

Só para a mulher e filhos

Gato, cachorro e empregada.

E assim constituiu

Sua nova existência

Com os vizinhos do bairro

Tinha toda paciência

Não dava um passo que todos

Queriam tomar ciência

Foi levando, foi vivendo

Só de casa pra labuta

Até que um certo dia

Chegaram uns filhotes de truta

Chamando-o para uma festa

Lá pros lados de Ipojuca

O galego se alegrou

Como há tempos não fazia

Se trocou e pôs perfume

Com a mulher à revelia

Não seria por ciúme

Que essa noite ele não ia

Foi só o primeiro gole

Que um alcoólico não podia

E o homem entrou de cabeça

Em uma vida que um dia

Prometera pra si mesmo

Que jamais retornaria

Era bar, era noitada

E mulher pra todo lado

Não podia ver notícia

Que ele não fosse levado

A participar do evento

Revivendo seu passado

E assim hoje é pessoa

Que se parte em duas vidas

Numa é família da boa

Noutra é das raparigas

E se alguém nunca fez média

Ou nunca se viu dividida

Atire a primeira pedra

Que ele pega na corrida