Peleja de João Rubens e Paulo Ernesto

J.R. Tô aqui pra relembrar

da peleja-brincadeira

Vô puxar uma cadeira

e chegar bem devagar

Chamo Paulo pra jogar

que nem no interior

Que além de cantador

é um primo arretado

Sinta-se desafiado

na Arena de Trovador

J.R. Paulo Ernesto, jornalista

voismecê escreve bem

e fala como ninguém

dessa vida folclorista

Eu não sou nenhum artista

peço-te simples favor

Conte pro posterior

o que queria saber

Das lendas que não se lê

daí do interior

P.E. Tem lenda que não se conta

Tem estória cabeluda

Lenda de veia buchuda

Lenda de padre que apronta

Tem lenda que até desmonta

A fama dos pescadores

Lenda de enganadores

De beberrões, de poetas

Lendas de rimas completas

Pra açoitar os cantadores

P.E. Doutor lhe peço em verso

Uma consulta a mim

Não sei se é bom ou ruim

Mas ando meio disperso

O que sinto lhe confesso

Há alguma coisa errada

Coração em disparada

Aperto e muito calôr

Pergunto se essa dor

Pode ser remediada.

J.R. Meu primo, eu lhe empresto

o dito conhecimento

Eu vi seu acanhamento

do sintoma indigesto

Não lerei um manifesto

para saber tua dor

Todo esse seu calor

e o coração disparado

Por sorte é explicado

e nominado de amor

J.R. Não sei de medicação

que posso lhe receitar

Mas para lhe confortar

vou dizer de antemão:

Não existe explicação

para o que vou lhe dizer

O que cura o mau doer

de um coração apertado`

É ficar bem abraçado

pertinho do bem-querer

J.R. Mas agora, jornalista

peço uma explicação

Tenho uma indagação

meio que alegorista

Uma vez um plantonista

me disse que foi pescar

e veio logo inventar

monte de barbaridade

Por que tanta falsidade

que ele veio me contar?

P.E. mentiroso de plantão

é esse tal plantonista

peça que’le não insista

e não lhe dê atenção

caro amigo joão

vou responder a contento.

plantonista não tempo

de ir para pescaria

está é com sombaria

mente por divertimento

P.E. Não sei o que ele contou

Mas com certeza é lorota

Pra quem gosta de fofoca

O bom ouvido encontrou

O peixe que ele pescou

Diz que deu aos “urubu”

Não trouxe um só pra tu

Ninguém comeu do pescado

Vou dizer disconfiado

Que o peixe foi o pacu

P.E. Pra cu-meçar a mentira

Ele deve ter dito assim:

Pesquei uns 3 surubim

quatro bagres, seis traíra

de caranguejo uma tira

um cesto de carmarão

um peixe boi pela mão

dez pitú “amarradinho”

e num cavalo marinho

puxei tudo pro areião.

J.R. Foi mais ou menos assim

que ele me enrolou

Tudo ele inventou

mas mentira tem seu fim

Agora conte pra mim

algum causo verdadeiro

No futebol brasileiro

se pudesse a partida

Tu ficava na torcida

do Crato ou Juazeiro?

J.R. Paulo, digo pra você

que não sou conhecedor,

de gol e goleador,

mas vejo pela T.V.

Pois pai, quando eu bebê

me levou pro Romeirão

Era grande a animação

na terra de "Padim Ciço"

Me puseram um tal feitiço:

Icasa no coração

P.E. Sou Icasa e sou doente

Sou verdão do cariri

Nem vendo um boi “pari”

Ou galinha nascer dente,

Eu não torço diferente.

do time do juazeiro

Já está no brasileiro

Da terceira divisão

É líder é campeão

Do grupo é o primeiro.

J.R. Já estava imaginando

para qual você torcia

Mas mudando de abadia

sem estar incomodando

Lembro, de quando em quando

da antiga brincadeira:

a roda de cirandeira,

pique-esconde, pega-pega,

as noites de cobra-cega

e caça de baladeira

J.R. Quando vejo uma criança

se fazendo de adulto

Isso vem como insulto,

fere toda esperança

Fica fraca, sem sustança

quando não joga peão

Eu vivia o São João,

brincava de gato-mia

Eu mesmo que não dormia

lembrando da arrumação

P.E. Segue o mestre, bixeirinha

Queimado, bila e mata

Cai no poço, andar em lata

Bandeira e amarelinha

Ededronha, adivinha

Solta pipa, bananeira

Chinelo, cabana , bandeira

Cobra cega, birro anel

Era o maior escarcéu

Nos tempos de brincadeira

P.E. Vou lhe confessar um fato

Que me botou a perder.

Brincando de se esconder

Eu ia pro "mei" do mato

Foi meu primeiro contato

Com uma mulher sem roupa

Aquela peste era louca

a chamava de amiga

Nos beijávamos na pocilga

Ninguém ficava de touca

J.R. Essa pocilga conheço

que fica na cana-brava

Até lembro que brincava

quando era mais travesso

Virava tudo do avesso

no sítio de meu avô

Hoje sou quase "dotô"

e me dá tanta saudade

Fico louco de vontade

de ir pro "interiô"

J.R. Eu jogava muita bola

na sombra da cajarana

Chupava cana-caiana

ao som de uma vitrola

As primas de camisola

via e me apaixonava

Eu caçava e pescava,

vidinha boa, meu Deus

E nas festas dos mateus

batia e apanhava

P.E. A Cana Brava resiste

Ao tempo que não perdoa

Eu lembro das coisas “ boa”

Que inté hoje lá existe.

Somente me deixa triste

A ausência do meu vô

Que a todos “cativô”

Com sua simplicidade

Ainda tenho saudade

Porque a morte o “levô”.

João Rolim
Enviado por João Rolim em 28/11/2006
Código do texto: T304097