O VALENTÃO QUE FICOU MANSO

Joaquim era cabra forte

Com fama de valentão

Metia medo no povo

Lá pras bandas do sertão

E não tinha quem quisesse

Com Joaquim fazer questão

A sua fama foi crescendo

Abalando a região

Correndo de boca em boca

Tendo grande projeção

E aonde ela chegava

Causava preocupação

É que todos tinham medo

De cumprir-se a tradição

De que ao chegar a fama

Vinha a confirmação

Joaquim aparecia

Provocando confusão

Insultava todo mundo

Fazendo provocação

Chamava homem de bicha

E mulher de sapatão

Tudo para arranjar briga

E manter a tradição

Queria manter a fama

De ser o mais valentão

Pois nisso via vantagem

E muita satisfação

Ver sua fama atingir

Toda aquela região

A fama sendo mantida

Não tinha perseguição

Pois quem iria querer,

Se meter em confusão,

Sendo certo apanhar,

E sofrer humilhação?

Muitos já tinham tentado

Enfrentar o valentão

Ninguém levava vantagem

Nessa difícil missão

Pois Joaquim é destemido

Com ele não tem perdão

Brigava de todo modo

De faca, foice e facão

De murro também vencia

Pois tinha força na mão

E na disputa de bala

Também era campeão

Muitas vezes já foi preso

Como todo valentão

Para polícia prende-lo

E cumprir sua missão

Precisava de reforço

Só se fosse um pelotão

Se um soldado sozinho

Quisesse lhe por a mão

Além de não conseguir

Ia sofrer decepção

Joaquim fazia deboche

E causava humilhação

Certa vez numa cidade

Ganhou fama nesta ação

Estava num bar, bebendo

Aproximou-se um peão

Que já tinha planejado

Pra Joaquim uma traição

O esquema elaborado

Na cabeça do peão

Era insultar Joaquim

Provocando confusão

E na hora da peleja

Teria ajuda do irmão

Era um plano bem simples

Não tinha complicação

Quando Joaquim estivesse

Açoitando o peão

O irmão viria por trás

E metia-lhe o facão

O irmão posicionado

Em um canto do balcão

Só estava esperando

De Joaquim a reação

Pra na hora oportuna

Por seu plano em ação

Tudo ia bem certinho

Conforme a combinação

Mas quando chegou a hora

Do irmão entrar em ação

Joaquim girou bem rápido

E irmão matou irmão

O irmão desesperado

Com aquela arrumação

Foi pra cima de Joaquim

Sem ter jeito na ação

E facilmente Joaquim

Tomou-lhe logo o facão

O homem se viu perdido

Pra Joaquim pediu perdão

Disse ser pai de família

De viver tinha precisão

Só entrou nessa jogada

Por causa do seu irmão

Mas Joaquim era perverso

Não tinha bom coração

Todo mundo já sabia

Com ele não tem perdão

Mataria aquele homem

Com o seu próprio facão

Quando ia desfechar

Um golpe de precisão

Chegam polícia e ambulância

Pra cumprirem a obrigação

E Joaquim muito esperto

Soltou logo o facão

O caso foi resolvido

Sem muita complicação

Joaquim não matou ninguém

Quem matou foi o irmão

E só fez crescer sua fama

De astuto e valentão

Dessa fama ele gostava

E tinha até fixação

Mas trazia uma tristeza

No fundo do coração

É que nenhuma mulher

Por ele tinha paixão

Sua fama era o motivo

Daquela situação

Pois nenhuma mulher quer

Se ver nesta condição

De padecer por amor

Nas garras de um valentão

Mulher gosta de carinho

Amor e compreensão

Gosta de muito respeito

Companheirismo e atenção

E nas horas dos agrados

Pegada forte e tesão

Nada disso ele trazia

Em sua rude formação

E pras coisas do amor

Não tinha disposição

Nem sequer ele sentia

Desejo de relação

Só queria ter mulher

Apenas por precaução

Pois sabia que outra fama

Já tinha divulgação

De ser valente pra homem

Pra mulher ser covardão

Com homem se agarrava

Com muita disposição

De mulher se escondia

Não tinha aproximação

Nem ele mesmo sabia

Por qual motivo ou razão

A outra fama crescia

Com grande aceleração

Porém todos duvidavam

Da maldosa afirmação

Que Joaquim agarra homens

Com grande satisfação

Mas ninguém tinha coragem

De fazer confirmação

Porém todos suspeitavam

Daquela situação

Um rapaz tão novo e forte

Por mulher ter aversão

Mas por fim chegou o dia

De se ter comprovação

Com um caso acontecido

De grande repercussão

E o que ficou confirmado

Abalou todo o sertão

O evento aconteceu

Lá no bar do Raimundão

Onde sempre Joaquim

Ia tomar um quentão

Por já ser bem conhecido

Não tinha complicação

Estava Joaquim bebendo

Escorado no balcão

Quando chegou um rapaz

Alto, forte e bonitão

De Joaquim aproximou-se

Com muita educação

Todo mundo apreensivo

Com aquela situação

Pois sabiam que aquilo

Ia dar em confusão

Mas para espanto de todos

Joaquim fez saudação

O rapaz puxou conversa

Falando com animação

Joaquim correspondia

Prestando muita atenção

E assim beberam juntos

Em mútua satisfação

E os dois se abraçavam

Trocavam apertos de mão

E ninguém acreditava

No que mostrava a visão

Mas o certo é que o moço

Amansou o valentão

Depois disso, Joaquim

Ficou muito tranquilão

Pra provocação de briga

Não dava mais atenção

Só ficava em sua casa

Em paz com seu amigão

Agora, caro leitor

Você dá a decisão

Diga o que é melhor

Responda com retidão

Ser um homem muito manso

Ou um boiola valentão?