HOMENAGEM TERNA AO ETERNO POETA ZÉ SALDANHA
José Saldanha Sobrinho
Um poeta alvissareiro
Indo dos motes à glosa
Cantou sertão por inteiro
Destacou-se no nordeste
Deste torrão brasileiro
Sapateiro, agricultor,
Homem de muitas virtudes
Fez de janeiro a janeiro
Estradas, cubas e açudes,
Orou pra todos os santos
Até pra Santa Gertrudes.
Compositor, menestrel
Sem nem tocar na viola
Os fatos simples da vida
Sempre arrumou na caixola
Pois nos versos que fazia
Dava sempre show de bola.
Um amigo generoso
Sempre alegre e jovial
Tinha química com o tempo
Por isso fez-se imortal
Com sua obra escrita
De valor fenomenal
Cordelista de primeira
E com grande inspiração
Foi dos campos à cidade
A narrar situação
Foi repórter bem fluente
Do fundo do coração.
Nascido no Piató
E daí um santanense
Do Matos foi o maior
Na terra seridoense
Revelando o seu carinho
Ao povo currais-novense
Tudo quanto amealhou
Juntou pra sua família
Fazendo dela um enfeite
E a verdadeira mobília
Um eterno apaixonado
Feito um Dirceu por Marília.
Junto da filha Reneide
E do genro Felizardo
Viajou por muitos cantos
Dos sertões foi grande bardo
Suportou peso e canseira
Sem nunca sentir-se um fardo.
No relato dos parentes
O amante da natureza
Ao ver verso declamado
Aplaudia com certeza
E na frase concluía:
Que beleza, que beleza.
Aos noventa e três de idade
Era alegre qual menino
Sem sentir dor numa unha
Nem cometer desatino
Era apenas cumpridor,
Na terra, do seu destino.
Vibrador com a cantoria
Concedeu-lhe um bom espaço
Bem perto dos violeiros
Sem perder um só pedaço
Esquecia a dor nas costas
Nem lembrava do espinhaço
Um verdadeiro tutor
Mentor de filhos e netos
Um humilde cidadão
De gestos simples, discretos,
Fazendo por todos eles
Seus folguedos prediletos.
Com a neta pequenina
Mirador de pirilampos
Em noites de lua cheia
Deleitou-se pelos campos
Totalmente embevecido
Ao ver os cavalos pampos
Dotado de muitos dons
Foi um verdadeiro artista
Contou histórias bonitas
Ou tristes, pra sua vista,
E além de escrever cordel
Também foi xilografista
Contou no Memória Viva
Fato bem inusitado
Havido em Cerro-Corá
Que da vida foi ceifado
Grupo de oito cidadãos
De uma vez só sepultado
Naquela oportunidade
Quem fez a xilogravura
A pedido de Saldanha
Foi a mesma criatura
Que noutro acidente grave
Foi parar na sepultura
Nos dois cordéis Zé Saldanha
Contou a história sofrida
E quatro mil exemplares
Foi sua lavra vendida
Mostrando que tal desgosto
Também fez parte da vida
Lamentou, carpiu, chorou
Mas tão logo se refez
Partiu pra outros trabalhos
Com nova história na vez
E assim, ano após ano,
Disse, porque viu e fez.
Deixa hoje grande legado
Pelos meios naturais
Para tirar do cordel
Seus ricos mananciais
E tal obra calorosa
Ser contada mais e mais
Deixa saudades imensas
E uma memória rica
Desde as mais simples sentenças
Sobre histórias da peitica
Do descanso prazenteiro
No copado da oiticica
Viu de perto o tempo todo
Tudo que na vida encerra
Fez versos no dia a dia
Cantou mata, cantou serra
Trabalhou de sol à chuva
E provou do sal da terra
Foi um mestre passarinho
Feito um galo de campina
Espraiou muitos gorjeios
Fez da poesia uma mina
Buscou vales verdejantes
Numa inspiração divina
Seu mais famoso cordel
Matuto na capital
Conta a história dele mesmo
Indo brincar carnaval
E passar constrangimento
No seu balanço final
Agora finalizando
Venho a todos conclamar
Divulgar seu Zé Saldanha
Para a obra sacramentar
Não deixar morrer seus versos
Para sempre o eternizar.