HOMENAGEM A ZÉ LIMEIRA

Vou escrever esses versos

Em honra a Zé Limeira

O poeta do absurdo

Que nunca falou besteira

Pois na sua poesia

Esbanja sabedoria

Tudo em tom de brincadeira

Ele sempre escrevia

Com humor e perfeição

Misturando os assuntos

Que não tinham ligação

Desta forma eu vou fazer

Por isso peço a você

Preste muita atenção

Ancorei o meu navio

No deserto do Saara

Era quase meio dia

E a lua estava clara

Foi tão grande o meu espanto

Olhando pra todo canto

Vendo beleza tão rara

Preparei o desembarque

Com toda tripulação

Todos estavam vestidos

De perneira e de gibão

Eu tinha punhal de prata

Camiseta e gravata

Pois eu era o capitão

Logo ao desembarcar

Tinha um táxi esperando

Bem na beira do açude

Sobre a balsa boiando

Lembrei-me de um evento

Soltando a voz no vento

Quando eu vivia aboiando

Ao chegar à terra firme

Eu fiquei muito contente

Ia agora desfrutar

Do que tinha o continente

Cachaça e mulher bonita

Cair na farra infinita

Esquecer a dor de dente

Imagine a alegria

De um peão navegador

Viajando de navio

Sendo um desbravador

Cruzando todas as matas

Calçado de alpargatas

Feito um conquistador

E depois da emoção

Sem prever nenhum combate

Minha fome era grande

Resolvi comer tomate

Subi num pé de laranja

Para ver o que se arranja

Tinha muito abacate

Essa fruta era doce

Feito suco de limão

Sua casca era grossa

Como cururu rodão

Sua carne era macia

E tão fácil ela descia

Que nem pluma de algodão

Só mesmo você provando

Pra saber o seu sabor

Inda hoje fecho os olhos

E vejo a sua cor

Amarelo avermelhado

Com o miolo encarnado

Transparente, incolor

Tendo saciado a fome

Fui conhecer a cidade

Peguei minha bicicleta

Saí em velocidade

Em tantas ruas passei

Se perguntarem, não sei

A sua totalidade

Apreciei muita coisa

Enquanto eu pedalava

Cachorro roendo osso

E a moça que cantava

Papagaio na gaiola

E o disco na vitrola

Que há tempos não tocava

Caminhava lentamente

O vento soprava forte

Para pegar uma gripe

Nem precisava de sorte

Eu queria era saber

Onde foi se esconder

Meu alicate de corte

Quando achei o alicate

Cortei logo a energia

Ficou tudo tão escuro

Parecendo o meio dia

Veio o eletricista

Feito um equilibrista

Padre nosso, Ave Maria

Quando a luz retornou

É que a coisa ficou preta

Pois olhei para as pessoas

E então só vi careta

Fazia tanto calor

Do chão saía vapor

Foi notícia na Gazeta

Retomei o meu caminho

Agora seguindo a pé

Vi um porco todo preto

E o galo do Seu Zé

Vinham andando em paralelo

Os dois comiam farelo

Jesus, Maria e José

A cidade era pequena

Tinha só um quarteirão

Tinha fogueiras acesas

Era noite de São João

Eu peguei meu parabelo

A enxada e o martelo

E liguei pra Lampeão

Ele então me respostou

Com um tiro de canhão

Ficou tudo iluminado

O estouro fez clarão

Quando li o seu torpedo

Cheguei a ficar com medo

Com o celular mão

A mensagem era clara

E nela ele dizia

Aceitava o convite

Pois muito gosto fazia

De entrar naquela festa

Junto de gente honesta

Isto muito lhe aprazia

Eu então lhe confirmei

Que a festa era boa

Se ele ali viesse

Não ia fica à toa

São João é santo bom

Boca linda tem batom

Chuva fina é garoa

Depois de tudo acertado

Eu entrei no cabaré

Pois eu sou desconfiado

Sou igual a São Tomé

É preciso eu tocar

Pra poder acreditar

Faca, garfo e talher

A festança foi bonita

Lampeão trouxe seu bando

Eu tinha a tripulação

Todo mundo só dançando

Tinha cerveja gelada

Tira gosto e panelada

Uísque de contrabando

De repente nessa festa

Uma grande aparição

Patativa do Assaré

Tinha um verso na mão

Ariano Suassuna

Escorado na coluna

Disse coisas do sertão

Quando a festa acabou

Preparei-me pra voltar

Escrever este cordel

Para a história contar

E não foi de brincadeira

Ela é pura e verdadeira

Acabei de inventar.

Augusto Secundino
Enviado por Augusto Secundino em 10/09/2011
Código do texto: T3211913