O verbo e a verba

Deverei estar me revoltando

Com o uso repetitivo

Do pretérito e indicativo

Com o gerúndio complementando

Mas o uso é imperativo

Quando me vejo abordando

É que o verbo mal usado

Pode até ser indigesto

Para o mesmo resultado

Quando o pretérito é que é certo

Porém “verba” é outro caso

Isso é muito mais perverso

Mesmo não estando ciente

Assim, especificamente,

De quais devam ser os feitos

Dos eleitos pela gente

Que vota achando ter feito

A escolha decentemente

Não parece ser difícil

Entender os descaminhos

Quando sentimos de ofício

Que nós estamos sozinhos

Que se regem muitos políticos

Por seus intentos mesquinhos

Parecem só vislumbrar

Poder ao cargo auferido

Urdir e manipular

Da posição com os amigos

Que o ajudaram a ganhar

O bolo a ser dividido

Claro, isso tudo é feito

Com todos muito formais

Detalhando seus direitos

Em cláusulas contratuais

Com adendos nos preceitos

Que embutam percentuais

As obras vão se arrastando

Esticando os sofrimentos

De quem precisava há anos

Gestão que desse um alento

Quando enfim nos deparamos

Com o mesmo procedimento

Muitas vezes um governo

Põe em prática um projeto

Que sequer se imaginava

Um dia que desse certo

Com tudo a toque de caixa

Sem o plano estar completo

É emprego sem transporte

Fábrica sem energia

Mão de obra sem preparo

Esgoto em plena via

Caos no complexo implantado

Da chegada ao fim do dia

Financiamento parado

Fornecedores a espera

Sócios privados empacados

O otimismo já era

E os políticos empenhados

Em faturar noutra esfera

A impressão bem real

De quem vive a cidade

Embrenhado por suas vias

Dentro das dificuldades

Trabalhando todo dia

Enfrentando essas verdades

É que os homens definidos

Para administrar seus destinos

Foi de um jeito compelido

Sem chance de algum refino

Tal a falta do artigo

No meio desses “meninos”

Certamente é um universo

Estranho ao cidadão

Tal como há o submundo

Mas com tal separação

Que ninguém nem mesmo em verso

Imagina a distinção

E assim mais uma vez

Fico com a frustração

De não dizer um centésimo

Do que vai ao coração

Seja por ser sacrilégio

Ou por qualquer outra razão