História de um Abortado

Minha história meu Deus, foi muito curta

Teve um fim muito antes do começo

Eu fui fruto do erro de dois seres

E pelo erro dos dois paguei o preço.

Fui gerado num ventre inconseqüente

De uma mãe imatura e adolescente

Que gerou-me por meses sem saber,

O meu pai não passava de um drogado

Que ao saber que seu filho era gerado

Já pensava impedir-lhe de nascer

Minha mãe ao saber que ia ser mãe

Já jogou-me uma praga muito forte

Fez promessas pra tudo que era santo

Implorando por Deus a minha morte

Ao ser posta de casa para fora

Lamentou o passar de cada hora

Sem comida, sem teto e ombro amigo

Foi atrás de meu pai com a esperança

De ao lhe dar a noticia da criança

Ele a desse conforto e desse abrigo

Mas chegando encontrou papai drogado

Que ao ouvir a noticia que ela deu

Ao invés do sorriso deu um grito

Respondendo: Esse filho não é meu!

Minha mãe, cabisbaixa e sem resposta

Olhou olho no olho e deu as costas

Se ausentando dali no mesmo instante

Foi então que saiu sem ter roteiro

Sem abrigo, sem rumo e sem dinheiro

Carregando a tristeza em seu semblante

Eu pequeno no ventre já sabia

Que quem tinha o meu sangue me odiava

Só não pude jamais imaginar

Que a morte cruel já me esperava

Me odiavam por quê? Se afinal

Pra ninguém eu havia feito o mal

Inocente eu se quer tinha nascido

Se o destino pra todos é traçado

Quem traçou os meus traços tava errado

Pois eu tive o destino interrompido

Minha mãe planejou tirar-me a vida

Alegando ser essa a solução

Ingerindo diversos comprimidos

Sem um pingo se quer de compaixão

Eu tão frágil, pequeno e indefeso

Em um ventre apertado vi-me preso

Foi ai que senti-me quase morto

Sem carinho de mãe, sem alegria

Me impediram de ver a luz do dia

E me botaram pra fora num aborto

Vendo ela o seu feto já sem vida

Sem remorso nenhum da covardia

Foi igual a um bicho peçonhento

Que depois de parir devora a cria

Me botou numa bolsa e jogou fora

Botou óculos escuro, foi embora

Esquecendo de tudo que passou

Minha história foi curta mas sofrida

Pois a mesma mulher que deu-me a vida

Foi aquela que a vida me tirou

Welton Melo (Bode Rei)
Enviado por Tarcísio Mota em 19/09/2011
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