O Causo da
 Pescaria Assombrada
Compadre Lemos


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Ê, Meus Cumpade, Minhas Cumade, meus cumpanherin!

Bom dia, boa tarde, boa noite procês!

Quem tá falano aqui é o Compadre Lemos e, a partir de hoje, nós vamos colocar aqui, no nosso Site, no nosso cantin, uns causo de pescadô.

Só que esses causo é tudo rimado, porque eu, além de ser pescador, sou também poeta de Cordel. Só não sou mentiroso! Ah! Isso não!

Antão, vamos iscuitá o premêro causo, que é o causo da Pescaria Assombrada! Vamo lá?
Antão!...
O Causo da Pescaria Assombrada

 
A pescaria eu tratei
Com Seu Carlos, meu cumpade.
Saímo madrugadinha,
Sem barúi e sem alarde.
Peguemo a istrada boa
E, na bêra da lagoa,
Cheguemo, no fim da tarde!

Sem dá pinta de covarde,
Dois pescadô valentão,
Na bêra dessa lagoa
Já fizemo a arrumação.
A noite caiu, intêra,
Nóis acendemo a fuguêra,
Móde miorá a visão.

Preparemo a imbarcação,
Uma canôa sem motô.
Entremo, cas traia nela,
E, cos remo, nóis remô.
Saíno in hora boa,
E, lá no mêi da lagoa,
Prá pescá, nóis isbarrô.

As isca, nóis logo iscô,
E nas água nóis joguemo.
Mai num biliscava nada,
Mêmo anssin, nóis isperemo.
Pru vórta de mêa-noite,
O vento fri era um açoite,
Uma vóiz nóis iscutemo:

"Cas arte do Pai do Demo,
Aí num tem pêxe não!
Cês joga o anzó mais pa riba,
Se quizé fazê cambão.
Se ficá nessa ingrizia,
Vai vortá de mão vazia,
Móde aprendê a lição!"

A vóiz era de truvão,
E nós, já muitho assustado,
Quereno sabê quem era,
Oiava pra todo lado.
Dali a pôco nós viu:
Um preto véio surgiu
Cuma se fosse chamado.

E foi chegano, incurvado,
Pu riba dágua, andano.
Jangada, barco ô canôa,
Nois num via êle usano.
Lembrava inté Jesus Cristo,
Que, no má, tomém foi visto
Sobre as onda, caminhano!

Eu já tava é me borrano,
E Seu Carlos preguntô:
-- Meu Véio, andá nas água,
Diz quem foi que te insinô!
Ele disse: -- Ô num sei não,
Dêz que eu saí do caxão,
Minha memóra apagô.

E nóis, antão, se tocô
Qui o véi era um difunto.
Arma penada, isprito,
Qui cum nóis puxava assunto.
Jesus Cristo, me socorre!
Cumpade, cabô-se o porre,
Cê corre, que eu corro junto!

Pra terminá o assunto,
E, sem mintí pá ninguém,
Já na bêra da lagoa
Foi qui nóis reparô bem:
Seje pro mêdo ô pru mágua,
Mai, corrê in riba dágua,
Nóis aprendemo tomém!

Essas coisa do Além
Ninguém num pode ispricá.
Eu só sei que asombração
Nunca mai vai me pegá.
Aquerdite, seu Dotô,
Larguei de ser pescadô,
Só quero agora é cantá!


Eitha, Cumpade Réi!... É cada uma que acontece nessa vida da gente, né não? Apois!

Brigado procês tudo, e ocês vorta amanhã, porque amanhã tem mais!
Fraterno abraço,
Compadre Lemos.

Próximo Causo:
Compadre Lemos
Enviado por Compadre Lemos em 07/10/2011
Reeditado em 10/10/2011
Código do texto: T3263075
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