MEU PRIMO CHATO

Tive quando menino

Muitos amigos de infância

Um desses era meu primo

Que desde que era criança

Nunca quis ser doutor

Mas era muito observador

Chegava a ser um chato

Ele nunca foi perfeito

Mas achava qualquer defeito

Na vida do povo do mato

Quando eu era bem menino

Adorava doce de tabuleiro

Até que um dia esse primo

Me fez perder gosto e dinheiro

Comprei o belo cuscuz carioca

Aquele com gostinho de tapioca

E ele disse que a receita sabia

- Os ingredientes só são dois

Raspa de coco com arroz.

Ai eu joguei fora a fatia

Quando eu fui crescendo

Desenvolvendo minha inteligência

Comecei logo percebendo

O que nele me enchia a paciência

Poderia ser uma linda princesa

Dormindo em cima duma mesa

Esperando um beijo e só

Ele botava defeito na hora

Acabava com toda a história

E ela morria no caritó

Pra ele uma simples uva

Era uma pitomba sem caroço

E que da estrada a curva

Era a reta de um tosco

Até a coitada da rosquinha

Feita de ovo e farinha

Era um biscoito com um furo

E o colorido algodão doce

Seja lá com o que fosse

Pra ele era açúcar puro

Eu comprava em todas as festas

O fruto do amor que eu era fã

Pois ele falou que não presta

Que era só açúcar e maçã

Ele acabava qualquer alegria

Roubava toda a magia

Das coisas mais simples da vida

Que até um simples ovo estralado

Que eu comia uma vez ao seu lado

Disse ele que era casca de ferida

Certa vez no colegial

Nos meus tempo de azaração

Pintou uma moça, coisa e tal

Fui pedir sua opinião

Você é capaz de achar defeito

Naquela magra do corpo perfeito

Que igualmente belo é seu nome?

- Bem, defeito eu não acho

Mas se ela levanta os braço

Os peitos dela some

Um dia, de olho numa menina

Que parecia um quadro seu rosto

Pintado pelas mãos divinas

E os cabelos, moldura de bom gosto

Disse: - Eu posso até sem medo

Revelar-lhe um segredo

Por debaixo dos pano

Todo aquele grande zelo

Com aqueles cabelos

É pra esconder os abanos

Só pra você perceber

Quando ‘tava ficando moço

Disse manteiga não comer

Pois ela é feita de osso

E que o pincel de pintar

Do que era feito ia falar

Mesmo sem ter feito curso

Se não for dum porco leitão

Era uma especial porção

De pelos d’um cu d’um urso

E ele nem é meu adversário

Ele é meu melhor amigo

Talvez sendo do contrário

Eu corresse mais perigo

Uma dessas pelajas

Foi dentro da igreja

Antes do casório do anormal

Observe uma prosa entre nós

Numa conversa à meia voz

Sobre uma vida conjugal

Disse eu: - Imagine você casado

E acordar todo santo dia

Com sua mulher do lado

Na tristeza e na alegria

Levantar mais cedinho

Para preparar com carinho

O café numa bandeja

Suco, torradas e queijo

E acordá-los com um beijo

Como toda ela deseja

Ele: - Quando você abre a janela

Você olha e fica espantado

Os olhos cheios de remela

Aquele cabelo assanhado

E para quebrar todo luxo

Ela vai e esvazia o buxo

C’um peido bem comprido

Con’s cabelos pregado na cara

E o bom dia que ela fala

É com um bafo bem fedido

Até em filme de cinema

Ao seu lado não temos paz

Vê erro em qualquer cena

De tudo ele é capaz

Reclama até de voz de mudo

Imagine somado ao estudo

Vixe Maria, sai de baixo!

Que ele passou no vestibular

É agora que ele vai caprichar

Nos seus tamanhos esculachos

André Riceliano Melo
Enviado por André Riceliano Melo em 09/02/2012
Reeditado em 09/02/2012
Código do texto: T3489128
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