CONSENSUAL
É sem brincadeira:
quero ser teu par,
braço de cadeira,
testo de chaleira
e, depois, te amar.
Nunca ser um fardo,
apenas o esteio;
não teu leopardo,
nem teu gato pardo,
mas de amor ao meio.
E, sem brincadeira,
querida menina,
se o mundo não queira,
falo de primeira:
teu “eu” me fascina.
Não diria à toa:
tu trinas ver ave,
pois tens de Pessoa
a lira que soa
e um cantar suave.
Eu, falar-te em vão?
Nem por brincadeira,
que não blefo, não.
Tu me és canção:
só te ouço inteira.
Tu és meu consenso,
como pede o povo
– meu melhor incenso.
Dou-te afeto imenso;
dás-me alento novo.
Sem palavras meias,
toda tu me encantas,
pois que m’incendeias
e rompes-me as peias
e as algemas tantas.
Em cordel pequeno,
jamais eu resumo
sentimento pleno
pelo teu veneno,
ladrão do meu rumo.
Consenso, sem drama,
timbro bem firmado,
num cordel que brama.
minh’alma te ama,
lá desde o passado.
Fort., 16/04/2012.