O VELHOTE NAMORADOR E O DOCE DE PINHÃO.

Estou voltando de novo,

Sem me fazer arrogado,

Trazendo para o leitor,

Um texto bem engraçado,

Esqueci quem me contou,

Porem do que se passou,

Ficou na cachola gravado.

Conta-se uma estória,

Acredite quem quiser,

Esse caso acontecido,

Pras bandas de Canindé,

De um velhote assanhado,

Que morou praqueles lado,

Que só falava em mulher.

Canindé é um município,

Lá do sertão nordestino,

É do torrão cearense,

Pois assim quis o destino,

Que tem como padroeiro,

São Francisco milagreiro,

Eu ouço desde menino.

Todo faceiro o velhote,

Já passava dos cinqüenta,

Pra falar bem a verdade,

Já beirava os sessenta,

Mas vivia se arrumando,

Andava todo nos panos,

Parecendo uma pimenta.

Chamava-se Herculano,

O tal velho namorador,

Papudo igual um peru,

Metido a conquistador,

Embora não desse conta,

Mas tinha a receita pronta,

Pra conquistar um amor.

Pois por um rabo de saia,

Ficava todo assanhado,

Cantava verso em prosa,

O velhote era escolado,

Por uma moça bonita,

Danava-se em fazer fita,

ETA velhote descarado.

Quando chegava na festa,

Ia logo se enfeitando,

Penteava a cabeleira,

Muito alegre assobiando,

Olhava pra todo o lado,

Com seu gogó afiado,

Pra depois cair matando.

Um dia o tal velhote,

Foi a um baile convidado,

Na casa de seu Genário,

Um sitiante agregado,

Dizendo assim consigo,

Vou convidar os amigos,

De perto do povoado.

Era um baile especial,

Pra família de seu Genário,

Que resolveu presentear,

Festejando o aniversário,

E também por seu intento,

Arrumar um casamento,

A sua linda filha Rosário

Ao receber o tal convite,

Herculano se acendeu,

Já foi cortar o cabelo,

Lá no barbeiro Amadeu,

E disse fazendo plano,

É hoje que Herculano,

Ganha tudo o que é seu.

O velho pôs na cabeça,

Que a moça lhe amava,

Por isso que quando a via,

Sempre pra ela piscava,

E a moça com simplicidade,

Usado de toda a bondade,

O velho com amor tratava.

Foi então que nessa festa,

O velho então se declarou,

Aproveitando o momento,

Que a moça sozinha ficou,

Dizendo que seu coração,

Tinha pela moça paixão,

E ofereceu-lhe seu amor.

A moça disse que é isso,

Que o senhor está dizendo,

Não ver que é despautério,

O que o senhor ta querendo,

Vou pensar na proposta,

Depois lhe dou a resposta,

E saiu de perto correndo.

Chamando então Zezinho,

Que era um de seus irmãos,

Um sujeito bem astucioso,

E era brabo feito um cão,

Que respondeu dessa vez,

Pelo que esse velho te fez,

Vamos dar-lhe uma lição.

Pois disse já estou cheio,

De ouvir suas gracinhas,

Acho que passou da hora,

Desse velho entrar na linha,

Assim ele vai aprender,

A nunca mais se atrever,

A mexer com irmã minha.

Garanto que depois disso,

Vai reconhecer seu lugar,

Assim ele vai aprender,

A não brincar com o azar,

E depois disso eu garanto,

Que esse velhote tonto,

Nem pra você vai olhar.

E combinou com Rosário,

Dar no velho uma lição,

E arquitetaram preparar,

Um prêmio do falastrão,

Fizeram um doce caprichado,

Totalmente recheado,

De sementes de pinhão.

Pra quem não sabe o pinhão,

Tem a semente oleosa,

É semelhante à mamona,

De aparência cheirosa,

Mas se comer meu amigo,

Correrá um grande perigo,

De escorregar na babosa.

Rosário serviu o doce,

Logo depois do jantar,

Aos outros convidados,

Serviu um outro similar,

O velhote se esbaldava,

Porem nem desconfiava,

Em que aquilo ia dar.

Zezinho durante a noite,

Pra ninguém desconfiar,

Mudou então o animal,

De seu costumeiro lugar,

E o velho namorador,

De nada desconfiou,

Continuando a festejar.

Já o dia amanhecendo,

Quase clareando o dia,

A moçada no terreiro,

Mas era grande a folia,

A festa se encerrando,

Porem velho Herculano,

Ainda de nada sentia.

Só Zezinho e Rosário,

Sabiam o que tinham feito,

Pelos cantos cochichavam,

Será que fizemos direito,

Mas que velho desgraçado,

O nosso doce arranjado,

Parece não fazer efeito.

Foi então que nessa hora,

A coisa se modificou,

Viram o velho inquieto,

Quando a barriga roncou,

Zezinho disse quero ver,

O que o infeliz vai fazer,

Pois a paçoca engrossou.

No meio do terreirão,

Tinha uma goiabeira,

Muito grossa por sinal,

Uma sombra de primeira,

O sol já vinha raiando,

Todo o povo proseando,

Que parecia uma feira.

Herculano então pediu,

Pra buscar o seu cavalo,

Pois não se sentia bem,

Do jeito que nem te falo,

Tava todo se torcendo,

Rosária e Zezinho vendo,

Porem nada de alertá-lo.

A coisa foi piorando,

E o velho mais apertado,

Muita gente proseando,

Pelo terreiro espalhado,

E o pobre do Herculano,

Quase já não suportando,

Ainda arrochar o rabo.

Novamente a barriga,

Do velho deu um sinal,

Como se fosse um aviso,

Que está pronto o mingau,

Abraçado à goiabeira,

E uma cara de testeira,

Suava mais que braçal.

Começou avermelhar,

E suas pernas cruzou,

E então nesse momento,

O trem desencarrilhou,

Ouviu-se o estampido,

Do velho todo encolhido,

Ai as pernas afrouxou.

Em pé de pernas cruzadas,

Fedendo igual uma carniça,

Suado e todo tremendo,

Verde que nem hortaliça

Então sem agüentar mais,

Disse diabo à garapa sai,

Porém o bagaço fica.

Nisso o irmão de Rosário,

Com o cavalo chegou,

E o povo todo assustado,

Com dó do velho ficou,

E o velhote envergonhado,

Saiu correndo apressado,

Num repente se afastou.

E do sertão nordestino,

Sumiu-se o namorador,

Ninguém mais ouviu falar,

Do velho conquistador,

Não sei se aprendeu a lição,

Mas do doce de pinhão,

O velho nunca mais provou.

Dizem ser caso verídico,

Essa estória meu irmão,

Desse tal velho Herculano,

Lá pras bandas do sertão,

E dessa história de terror,

Como o velho se arranjou,

Tirem vocês a conclusão.

Cosme B Araujo.

03/10/2012.

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 03/10/2012
Reeditado em 13/10/2012
Código do texto: T3914701
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