Nenê Macaggi - Uma história para ser lembrada!

Macaggi foi uma mulher

Avançada pro seu tempo

De beleza exuberante

E tinha na mente um templo

De conhecimento e força

Guiada por grande intento

Nasceu de nome Maria

Em vinte e quatro de abril

De novecentos e treze

No Paraná, (Meu Brasil!)

Mas foi com a graça Nenê

Que na Amazônia surgiu

Chegou do Rio de Janeiro

A mando da Presidência

E o próprio Getúlio Vargas

Foi quem lhe deu a incumbência:

Registrar o Estado novo

No véu de sua inteligência

Com o projeto Rondon

Na Amazônia chegou

Na década de quarenta

E a muita gente encantou

Aquela jovem bonita

Que tanta garra mostrou

Com os índios missionários

Começou a trabalhar

Pois foi logo nomeada

Delegada do lugar

E fez, no SPI,

Trabalho espetacular

Quando chegou a Roraima

Na época, Rio Branco

Território Federal!

Ali se vestiu de encanto

E a célebre escritora

Fez de seu ninho esse canto

Tudo o que era do Norte

Lhe falava ao coração

E então resolveu ficar

Tomada pela emoção

Fazendo da causa indígena

A sua luta e brasão

E foi com imensa bravura

Que percorreu esse Estado

Ficando bem conhecida

Pois não mandava recado

Dizia o que era preciso

Sem temer o resultado

Chamava os índios de filhos

E era bastante querida

Mas a batalha era enorme

E a estada muito sofrida

Ainda assim foi adiante

Com sua bandeira erguida

Certo dia aconteceu

De por ali encontrar

O senhor José Soares

Chegado do Ceará

Com ele Nenê casou

E um filho pode embalar

Viveu ali, entre índios

E entre muitos garimpeiros

Sem ter comunicação

Com seu Rio de janeiro

Por isso, às vezes, viajava

Indo e voltando ligeiro

E foi numa dessas viagens

Quando a moça retornou

Que recebeu a notícia

Tão triste, cheia de dor

“-Foi há dois dias, senhora

Que enterramos seu amor”

Nenê, agora viúva

Cuidava de seu herdeiro

Não desistiu um instante

(Era destino certeiro!)

Na honraria da causa

Do seu motivo primeiro

E conta o povo dali

Que aquela mulher guerreira

Se disfarçou foi de homem

Com calça, bota e peixeira

Pra trabalhar no garimpo

Usando enxada e peneira

Cortou cabelo bem curto

Meteu-se naquela lama

Falava pouco com os outros

Pra não estragar sua trama

Seguia assim, bem discreta

Pra desviar-se de drama

Pois tudo o que ela queria

Era colher informação

De forma bem mais precisa

Além do lápis na mão

E assim, a moça, algum tempo

Passou-se por “cidadão”

E nesse seu trabalhar

No barro do Tepequém

A vida do garimpeiro

Ela traçou muito bem

Com a história da pecuária

Com a dos índios também

Até que um dia um senhor

Achou um tanto estranho:

Que aquele “moço” calado

Não se mostrava no banho

E assim, Nenê foi-se embora

Vendo o perigo tamanho

Mas que ela foi corajosa

Está bem claro de ver

Depois publicou seu livro

Deixou pra mim, pra você

Foi “A mulher do garimpo”

Tesouro do escrever!

Uma herança pra história

Firmada com louvação

Traçada em linhas bem postas

De um tempo em que o cidadão

Ganhava ou perdia a vida

Tirando ouro do chão

E voltando a Boa Vista

(De Roraima, a Capital)

Foi trabalhar no Governo

Pela Imprensa oficial

Se dedicando na vida

Aos livros e ao jornal

Se foi em quatro de março

Do ano dois mil e três

Fazendo mais uma viagem

Foi lá pro céu, dessa vez

Deixando muita saudade

E exemplo pelo que fez

Agora, Nenê Macaggi

Divinamente intitula

A casa de nossa arte

Grandiosa arquitetura

Um patrimônio do povo

O Palácio da Cultura

E ao escritor roraimense

O dia que lhe foi dado

O vinte e quatro de abril

Quando é homenageado

É o dia em que ela nasceu

Hoje também consagrado

Nas linhas do extremo norte

Sua história é sempre lembrada

Como um exemplo de força

Que é uma marca registrada

Na vida dessa mulher

Por todos tão respeitada

- Fim -

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NOTA: Nenê Macaggi já era uma escritora renomada quando chegou a Roraima mas, sua importância no Estado intensificou-se quando passou a escrever sobre a vida do povo roraimense. Foi revisora, redatora e colaboradora do jornal Boa Vista e, além da imprensa, dedicava suas horas à elaboração de seus livros sendo o romance “A Mulher do Garimpo” (escrito na década de 1970) considerado como o marco inicial da produção literária no Estado.

1.FONTE: Site Overmundo - “Nas entrelinhas da história de Nenê Macaggi - Gilvan Costa - 24/4/2006.(http://www.overmundo.com.br/overblog/nas-entrelinhas-da-historia-de-nene-macaggi)

2.Documentário “Nenê Macaggi: Roraima Entre Linhas”, vencedor do DocTV II Direção: Elena Fioretti.