O PASTOR E O CACHACEIRO.

Um tremendo cachaceiro,

Certo dia se encontrou,

Com um cara bem trajado,

Que se dizia ser pastor,

Era um fim de semana,

Cidade de pindorama,

Que o debate deflagrou.

O tal pastor se encontrava,

Pregando em uma praça,

Lá estava o cachaceiro,

Pro povo fazendo graça,

Isso ao pastor irritou,

E quase se embebedou,

Com o bafo da cachaça.

A presença do cachaceiro,

Rouba a cena do local,

Com a rouba esfarrapada,

Sujo e cheirando mal,

Ali ouvindo o sermão,

Sentado mesmo no chão,

Fedendo igual Bacalhau,

Tudo que o pastor falava,

O cachaceiro era contra,

Aquilo foi lhe irritando,

Que já passava da conta,

Chamou os seus assistentes,

Que disseram bruscamente,

Bêbado aqui não apronta.

O cachaceiro sem graça,

Retirou-se de mansinho,

Mas ficou só espiando,

E ouviu o sermão todinho,

Quando tudo se acabou,

O cachaceiro veio e ficou,

Daquele pastor pertinho.

Cantava o cachaceiro,

Eu amo essa branquinha,

Bebo-a pura ou com mistura,

Mas também na caipirinha,

Nem preciso de dinheiro,

Eu sempre acho parceiro,

Que me divide a oncinha.

Disse o pastor meu amigo,

O vicio é um páreo duro,

Cachaça não lhe dá nada,

Pelo contrario até juro,

Olhe bem pro seu estado,

Todo sujo e esfarrapado,

Deixe essa vida sem futuro.

O cachaceiro nessa hora,

Le olhou de cima em baixo,

Fez uma cara esquisita,

Dizendo isso eu não acho,

Disse sabe por que bebo,

É porque não tenho medo,

Beber é de cabra macho!

O pastor lhe perguntou,

Você quer aceitar a Jesus?

Uma coisa eu lhe garanto,

Ele é a verdadeira luz,

E desse vicio miserável,

Que te deixa deplorável,

Vai ser pregado na cruz.

Nessa hora o cachaceiro,

Os seus olhos arregalou,

Disse eu deixar de beber,

Não é plano meu senhor,

Me prove que não é mole,

Pegue aqui e tome um gole,

Então me diga se gostou.

Disse o pastou Deus me livre,

De cometer essa má ação,

Jesus Cristo me salvou,

De uma vida de perdição,

Eu agora estou liberto,

E dele estou sempre perto,

Bem longe dá escravidão.

Que escravidão que nada,

Bebo porque gosto dela,

Quando me falta da branca,

Eu inverno na amarela,

Aproveito é no gargalo,

Bebo até encher o talo,

Só pra limpar a goela.

Olha aqui meu amigo,

To tentando lhe ajudar,

A sair dessa miséria,

Que todo teu ser está,

Jogue essa cachaça fora,

Venha pra Jesus agora,

Ele quer te libertar.

Você aceitando Jesus,

Essa sua vida vai mudar,

Vai viver de roupas limpas,

Não sujo assim como está,

Só que o pastor não sabia,

Que o cachaceiro conhecia,

Da Bíblia pra comentar.

Disse olha aqui pastor,

Eu sei tudo de religião,

Pois no tempo de menino,

Trabalhei de sacristão,

Sei também que mentiroso,

Vaio ser queimado no fogo,

Na grande destruição.

O senhor pode ser doutor,

Ou mesmo um advogado,

Mas pra Deus não vale nada,

Quando for ali chamado,

Quem vai se lascar primeiro,

Os viciados e cachaceiros,

Ou pastor que ensina errado?

E quem lhe disse rapaz,

Que eu ensino errado,

Pergunte a algum dos fieis,

Se ele tá sendo enganado,

Juro até por minha vida,

O que falo tá na bíblia,

Está mais de que provado.

Era só o que me faltava,

Ouvir todas essas heresias,

De um sujeito iletrado,

Que vive na anarquia,

Deixe de me incomodar,

Bote seu galo pra cantar,

Lá em outras freguesias.

Quero que você me prove,

Replicou o cachaceiro,

Você pensa que eu não sei,

De seu modo interesseiro,

Faz todo esse bafafá,

E o resultado em que dá?

Em paçocas de dinheiro.

Um vendedor de milagres,

Querendo ser santarrão,

Com seu discurso bonito,

Nos panos de algodão,

Pegando o pobre coitado,

E levando o seu trocado,

Até as moedinhas do pão.

Posso ser um iletrado,

Mas conheço o que é certo,

Eu bebo minha cachaça,

E ando de peito aberto,

Não vou dar meu dinheiro,

Para nenhum muambeiro,

Que dá uma de esperto.

A cachaça me faz bem,

Bebo nem sinto arrepio,

Tomo quando está quente,

E quando o tempo está frio,

Tomo aqui, tomo no bar,

Tomo em qualquer lugar,

Até na beira de um rio.

O pastor que ouvia tudo,

Disse olha meu amigo,

Escolheste esse caminho,

Guiado pelo inimigo,

Jesus morreu por você,

Mas é preciso querer,

Que ele esteja contigo.

E foi ajuntando gente,

Quando viu a discussão,

Cada um falava mais,

Pois queriam ter razão,

Ai a coisa esquentou,

E no local se instalou,

Uma baita confusão.

O pastor falava em Jesus,

E o cachaceiro da cachaça,

O pastor falava da cruz,

E o bebum da manguaça,

E o povo que ali chegou,

Um grande círculo formou,

Em volta daquela praça.

De repente chega um cara,

Por nome de Chico grosso,

E agarrou o cachaceiro,

Apertando em seu pescoço,

Dizendo olhe venha cá,

Se você não se mandar,

Vai ser grande o alvoroço.

Você já encheu demais,

Com essa sua lacuaca,

Já afrontou o pastor,

Sem fechar essa matraca,

Ou se cala e vai embora,

Ou tiro teu couro fora,

E chamusco você de taca.

Disse então o cachaceiro,

Tá certo eu vou embora,

Mas fique você sabendo,

Que isso é só por agora,

Levantou cambaleando,

Com o dedo apontando,

Deu as costas e foi embora.

Cosme B Araujo.

13/01/2013

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 13/01/2013
Reeditado em 15/01/2013
Código do texto: T4083203
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