A IARA APAIXONADA

Cordel baseado na lenda da Iara e com um final diferente.

Essa é uma lenda antiga

Que data o século XVIII

Lá para os lados do Norte

Um rapaz muito afoito

Que um dia se apaixonou

E uma moça que deixou

Morto, para mais de oito.

Na região amazônica

Havia um índio jovem

Que se chamava Tapuia

E que vivia nas nuvens

Pelo amor de uma donzela

Sua vida deu a ela

Mulher de bela imagem.

Deixemos aqui o jovem

Para na moça falar

A fascinante Iara

A mais bela do lugar

Que tinha metade gente,

Outra, sereia imponente,

Deusa das águas do mar.

Muito linda e sedutora

Iara, a grande deusa.

A mãe das águas do rio

Era filha da realeza

O grande deus Oceano

Encantava todo humano

Dona de grande beleza.

Iara tinha um encanto

Transformava-se em sereia

Seduzia os pescadores

Em noite de lua cheia

Subia pro alto mar

E começava a cantar

Como ave que gorjeia.

E o pobre pescador

De água doce ou salgada

Quando ouvia aquele canto

Esperava a madrugada

Para ver a bela Iara

Em noite de lua clara

Lá no rio apaixonada.

E caía de amores

Por aquela deusa linda

A mais bela flor das águas

Do oceano entrevinda

Saia de mar afora

Após o romper da aurora

Sua vida era finda.

E o pobre condenado

Afogado de paixão

Seguindo o canto de Iara

Caía na perdição

Quando na água espelhava

Rosas vermelhas ornavam

Os cabelos e as mãos.

Era a mais bela visão

Que um homem podia ter

Deixava qualquer um bobo

Sem saber o que fazer

Querendo o amor que era

Muito puro de donzela

Que espera um amor viver.

Porém a deusa Iara

Após ter seu pretendente

Apaixonado por ela

Não lhe deixava contente

Levava-o para morar

Bem lá no fundo do mar

Era sereia e não gente.

E o pobre apaixonado

Sem ter o amor da amada

Ficava a ver navios

Sua vida era roubada

Em um mar de amargura

Morria na desventura

Daquela sina malvada.

Foi assim por muito tempo

Que a deusa Iara viveu

Seduzindo os pescadores

Fazendo-os escravos seu

Amava e desamava

Seduzia e desprezava

Muitos a vida perdeu.

Mas não é caro leitor

Que a vida dá muita volta!

E as coisas do destino

Nossa mente não comporta

E um dia aquilo que era

Sem jeito até se pondera

Mesmo se tem vida torta.

Do índio bravo e afoito

Sei que você está lembrado

O grande jovem Tapuia

Por Iara, apaixonado,

Flechado pelo amor

A ela ele se entregou

Tendo o mar como aliado.

Certo dia aquele jovem

Encontrava-se pescando

E de repente ouviu

A deusa Iara cantando

E parou para escutar

Aquela voz ressoar

Mas logo saiu remando.

E chegando bem na margem

Escondeu-se na cabana

Não quis ir ver a Iara

Por lá passou a semana

E ela no mar cantando

Com certeza lhe chamando

Muito linda e soberana.

Mas Tapuia muito sábio

Não cedeu aos seus encantos

Quanto mais ela cantava

Desmanchava-se em quebranto

E o índio bravo e forte

Escrevia a sua sorte

Ao som do seu acalanto.

Iara ficou cantando

Noite e dia sem parar

E o índio da cabana

Só queria lhe amar

Mas resolveu não ceder

Pra Iara aprender

O seu amor respeitar.

Ela cantava tão alto

Que de longe se ouvia

E o índio procurava

Ver no seu canto um dia

Melodias de amor

Com um perfume de flor

E seu coração morria.

Pois o que ele queria

Era em seus braços estar

Mas não podia ceder

E o seu plano arruinar

Pois a deusa merecia

Para ver se aprendia

Um dia se apaixonar.

E numa tarde nostálgica

Iara permanecia

Cantando para Tapuia

E no seu canto ele ouvia

Sinais de uma saudade

E um amor de verdade

O seu canto refletia.

Foi aí que o bravo jovem

Resolveu ver sua amada

Pois tinha medo que ela

Acabasse magoada

E não queria deixar

Sua amada escapar

Pelo rio, amargurada.

Tapuia saiu ligeiro

Na canoa a procurar

Pelo som de sua voz

Descobriu logo o lugar

Parou enfrente a amada

De pele branca rosada

E ficou a contemplar.

Iara era mais bela

Do que Tapuia pensava

Dos seus olhos cor de mel

O jovem se enamorava

O céu se iluminou

E o grande mar consagrou

O que o amor festejava.

Conta a lenda que Iara

Segurou do noivo a mão

E soltou um belo canto

De tremer o coração

As núpcias anunciando

E um soluço brotando

Como prova da paixão.

E rendendo-se ao amor

Mergulharam mar adentro

E o mar em grande festa

Sorria de encantamento

Por ver que o amor venceu

Da paciência nasceu

E fizeram o juramento.

Tendo como testemunha

Água doce e salgada

O céu assinou também

Pra Tapuia e sua amada

Celebrar a união

Daquela grande paixão

Há muito tempo esperada.

E Tapuia assim viveu

Tendo o amor de Iara

No fundo do oceano

Era sua pedra rara

Pra sempre muito feliz

É isso que a lenda diz

De Tapuia e Iara?

Fran Souza – 19/01/2012

Fran Souza
Enviado por Fran Souza em 16/01/2013
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