Zé Caninha
I
Zé gosta
De beber cana
No bar de esquina
Da dona Joana
Até a sua muié que é santa
Ele engana
II
Sempre bebe
Da mesma cachaça
Quando chega ao bar
É a mesma desgraça
Por isso vive
Dormindo na praça
III
Quando ele acorda
É um bafo de onça
De cachaça em cachaça
Ele enche a pança
Quando chega em casa
É aquela lambança
IV
Zé nunca pensa
Em trabalhar
Sua vida não sai
Do mesmo lugar
Toda noite
Ele vai para o bar
V
Sua sobriedade
Tinha curto pavio
Fazendo sol ou frio
Ou caindo um toró
Zé caninha tava sempre
Bebendo um goró
VI
Quando a pinga acabava
Ele tinha um chilique
Para garantir
Uma cachaça de alambique
Zé caninha sempre
Fazia um trambique
VII
De tão viciado
Pela marvada
Zé caninha
Não pagava nada
Para a coitada
Da sua empregada
VIII
Pindurava a conta do bar
Pensava que dinheiro caia do céu
Se vinham lhe cobrar
Mandava por na conta do Abreu
Se ele não pagar
Nem eu
IX
Quando a pinga acabava
Era um problema
Sua mulher e filho
Viviam um dilema
Para sua família
Ele era um edema
X
De tanto beber
Virou pedinte
De tanto pedir
Não ganhava nem vinte
De tanto aprontar
Não voltava no dia seguinte
XI
Zé caninha sonhava
Em ser prefeito
Mas nada na vida
Ele fazia direito
Mas dando ao povo cachaça
Ele foi eleito
XII
Na prefeitura
O balde ele chutou
A cidade
Sua mulher governou
Dando cachaça de novo ao povo
Novamente ele ganhou
XIII
Quando a velhice chegou
Com cirrose ficou
A sua família ele abandonou
A sua saúde desmoronou
Nem um vintém ele ganhou
E a sua vida se acabou