Um Matuto no Carnaval de Salvador

Todo mundo tem direito

De curtir o carnaval

Por isso um simples matuto

Rumou para a capital

Pra se tornar folião

Achando isso normal

Mas na cabeça do cabra

No carnaval só se tinha

Aquelas coisas antigas

Dos tempos da vovozinha

E ele até já ouvira

Falar bem da tal marchinha

Essa história é real

E esse matuto encontrei

Foi ele quem contou tudo

E nada disso inventei

Só pra relembrar o fato

É que ele escreverei

O cabra era muito rude

De uma criação severa

Pra ele o certo era certo

E o que não era, não era

Um bicho muito cismado

Que quase nada tolera

Chegando em Salvador

Achou grande a confusão

De vendedor ambulante

A turista folião

O povo se embaralhava

Mais que em feira de sertão

Pra acalmar o coração

Foi procurar um boteco

Pediu uma dose de cana

E trouxe o próprio caneco

Quando foi saber do preço

Quase o cabra teve um treco

Saiu falando sozinho

De tanta indignação

- Maldita hora que eu

Fui sair do meu sertão

Pra pagar litro por dose;

Ô quitandeiro ladrão!

Quis esquecer esse fato

Mais uma vez se acalmar

E num shopping da cidade

Ele resolveu entrar

Um abadá escolheu

Para a festa aproveitar

Foi pra Avenida Sete

Nosso folião matuto

Logo aprendeu dançar

Pois, fora ele ser um bruto,

O caipira era ainda

Um cidadão muito astuto

Passou por baixo da corda

Pra comprar uma cerveja

Deu a sorte de encontrar

Uma gata sertaneja

Ficaram batendo papo

Enquanto davam bandeja

O matuto na pipoca

Distraído, enamorado

Não viu que o seu bloco ía

Já bastante adiantado

E que atrás vinha chiclete

Com o povo muito animado

O cabra só percebeu

Que a coisa ficara feia

Quando uma briga estourou

Foi peia em cima de peia

E que depois dessa briga

Ficou descalço e sem meia

É que nesse corre-corre

O matuto disse: - Aposte

Vou me safar com estilo

Subindo em qualquer poste

Não gosto de ser mofino

Mas, quem sabe, até goste?!

E se agarrou o matuto,

Ao começar a subir

Trepando num velho poste

Ele só pôde sentir

O seu grosseiro chulé

Após seu tênis sumir

Ao passar a confusão

Foi procurar sua gata

Que por um acaso estava

Empunhando uma lata

Agarrada com outro homem;

- Mas, que festazinha ingrata!!

Tentou achar o seu bloco

Mas achou de se perder

Não achando o que se faça

Acabou só por beber

E caminhando perdido

Viu o dia amanhecer

Quando esquentou o dia

O matuto foi à praia

Querendo a sorte de achar

Por lá um rabo-de-saia

E partir acompanhado

Para cair na gandaia

Mas ficou desconfiado

Com tanto Sol e calor

E tanta moça bonita

Das terras de Salvador

Um homem passando noutro

Um creme bronzeador

Quando prestou atenção

O cabra se viu cercado

- Isso aqui é carnaval,

Ou convenção de viado?

Ao tentar fugir da praia

Ainda foi alisado

Infinitas desventuras

Esse matuto passou

De tão decepcionado

O cabra disse: - Já vou

Mas depois voltou atrás

- Se o pior já passou...

Mais esperto e experiente

Procurou um lugar bom

Não quis nem mais namorar

Somente curtir o som

Quando uma moça perguntou

Se estava bom seu batom

Aí ele se deu bem

Já começou a dançar

Tomou cerveja com a moça

E se puseram a beijar

Ao menos uma boa coisa

Ele tinha pra contar

Em Salvador é assim

Faça Sol, caia toró

Seja homem que não beba

Ou que goste de goró

Tem gente pra todo mundo

E nunca se fica só

Seja da paz, meu irmão

Assim nunca fica mal

Leve alegria onde for

Veja o outro como igual

Ande com Deus no seu peito

Desse modo, desse jeito

O Salvador é eleito

Reinado do carnaval.

Tarcísio Mota
Enviado por Tarcísio Mota em 19/02/2013
Código do texto: T4148113
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