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BÃO MERMO É O FORRÓ DA ROÇA!
Odir Milanez
 


Num é cá gente isso acoite,
mas, ontonte, eu i Maria,
cum chamego duma fía,
fumo pra tar duma bôite!
Case à boquinha da noite
aparelhamo a carroça
e fumo ao feito da troça
pros lado do Pajeú.
Oiça o qui digo pra tu:
Bão mermo é o forró da roça!
 
Instrada inscura, sem só,
sem chuva pro chão moiá,
era de um nunca acabá!
Di luize nem noitibó.
A puêra era sem dó,
as roupa ficou uma joça,
cu barro num ai quem possa,
bem mió ter ido nú!
Oiça o qui digo pra tu:
Bão mermo é o forró da roça!
 
Na bôite, quando cheguemo,
nem sonfona nem zabumba.
Mais parecia uma tumba,
das tumba feita pro demo!
Mermo assim a gente entremo,
fomo pra dentro da choça.
Lá dentro muita mangoça,
muié nua pra chuchu!
Oiça o qui digo pra tu:
Bão mermo é o forró da roça!
 
Só tinha muié galega.
Das pôcas pretas, a minha.
Di luize somente tinha
umas tar de luise preta!
Nem pricisava careta!
A cara inchia de mossa,
as perna ficava grossa
i os óio ficava azú!
Oiça o qui digo pra tu:
Bão mermo é o forró da roça!
 
As moiçola bota banca
cantano nu microfone,
cus peito de silicone,
cum silicone nas anca,
inquanto as véia as pelanca,
instica, incolhe, espescoça,
ispicha as prega, remoça,
bota botoqui i xampu.
Oiça o qui digo pra tu:
Bão mermo é o forró da roça!

Dancemo inté nos cansá
cás musga dum tar digei.
Pulei tanto qui mijei,
dispois mi dei pra cagá.
Lembrei do pé de juá,
dos mato da ramalhoça.
Cando a barriga me acossa,
fico que nem belzebu!
Oiça o qui digo pra tu:
Bão mermo é o forró da roça!

Foi antonce que subiu
no parco, tudo de quepe,
os cantadô dum tar repe,
gritando, dando assubiu.
Aí ca dança exprodiu!
uma dança qui arvoroça,
como serra qui distroça
um braçado de bambu.
Oiça o qui digo pra tu:
Bão mermo é o forró da roça!

 
Dava pra vê das jinela,
no breu, a barra do dia.
Inquanto o escuro sumia
o céu cendia uma vela.
Qui cena, cumpadi, aquela!
Curuja o canto incaroça
os passo os piado isboça,
sarta os sapo no paú.
Oiça o qui digo pra tu:
Bão mermo é o forró da roça!


Fui lá fora me sortá
i vi os moço, uns pamonha,
tudo fumano maconha
nos inscuro do quintá.
Antão pensei em pitá.
Garrei meu cacimbo e... nossa!
Quisero mi dá uma coça
qui bastou pru sururu.
Oiça o qui digo pra tu:
Bão mermo é o forró da roça!
 
Condo viro a lambedêra
afiada, em minha mão,
foi nas moita um correrão,
uma tar de corredêra,
qui pus na cinta a pexera
e vortei, cheio de bossa,
falando cum fala grossa,
cuns óio de cururu.
Oiça o qui digo pra tu:
Bão mermo é o forró da roça!
 
Intão nós perdemo a graça
i resorvemo vortá
cu dia raiano já,
temendo arguma disgraça.
I gastar num há quem faça
numa bôite a bagaroça
Prifiro ficá na fossa,
tumá cana cum caju.
Oiça o qui digo pra tu:
Bão mermo é o forró da roça!


JPessoa/PB
05.05.2013
oklima


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Sou somente um escriba
que ouve a voz do vento
e versa canto em cordel...

 
oklima
Enviado por oklima em 05/05/2013
Reeditado em 07/05/2013
Código do texto: T4275124
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