Impiedoso justo

No recanto do vexame não se queixaste,

quando um dia o amor te abandonaste,

não deixaste se enganar pelo desastre,

pois não reclamas nem de noite nem de dia,

nem descansa sob o pingo da mei-dia,

Nem xingaste sob o calor efervescente,

nem tão pouco ficaste descontente,

com o fracasso que carregas na rudia.

Nos escombros de um casebre te isolas,

um santinho do teu lado te consolas,

não saíste por aí pedindo esmolas,

mas avisos do além são tenebrosos,

em trovões e ventos bem raivosos,

que se estrondem feito uma dinamite,

tu não podes fingir que não ouviste,

o barulho e angústia dos faltosos.

No leito do rio fundo dos devedores,

tu ficaste olhando os horrores,

da angustia de tantos maus feitores,

que um dia de ti deram risadas,

agora são almas desenganadas,

pedindo a ti um socorro encarecido,

mas o mal destes não foi esquecido,

pelas impiedosas brasas esquentadas.